Artigo – Os desafios das mulheres na carreira docente de Economia

Camila Kimie Ugino – Docente na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUCSP) e na Universidade Paulista (UNIP).

Grasiela Cristina da Cunha Baruco – Professora Associada do Departamento de Ciências Econômicas da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ).

 

Este texto parte da inquietação geral sobre a atuação profissional das mulheres no campo das Ciências Econômicas e, particularmente, na atuação docente. Seria esta carreira inerentemente dominada por homens? Vamos tentar olhar ao nosso redor: são quantas professoras em relação aos professores em Economia?

Apesar do aumento na quantidade de mulheres economistas, ainda é um campo majoritariamente masculino. O desafio é compreender por que essa invisibilidade ocorre em pleno século XXI, quando as mulheres conquistaram avanços significativos, a partir das lutas históricas em busca de emancipação.

A situação da mulher no mercado de trabalho brasileiro ainda apresenta situações pouco gloriosas em atividades precárias e mais propensas a ficarem desempregadas. Por exemplo, o rendimento médio das mulheres, considerando as atividades formais e informais, é 23,5% menor que o equivalente dos homens, além de dedicarem muito mais tempo aos cuidados pessoais e aos afazeres domésticos. O nível de desigualdade aumenta quando comparamos o rendimento médio das mulheres negras com os homens brancos, que chega a uma diferença de 47,4%[1]

No meio acadêmico, a igualdade de gênero vem chamando atenção há algum tempo. O estudo de Lundberg e Stearns (2019)[2] apresenta um progresso das mulheres estadunidenses na economia, desde os anos 1970/80. De acordo com essa pesquisa, de meados dos anos 2000 para cá, apenas 35% dos doutorandos e 30% dos professores em economia são mulheres, destacando que há uma concentração de mulheres no início da carreira docente em relação às posições mais seniores. Em comparação às diversas áreas, a diferença de gênero na Economia é persistente.

No Brasil, as economistas em instituições de ensino representam apenas 25% do corpo docente[3], concentrando-se nos estágios iniciais de carreira, o que agravam as condições democráticas de acesso e permanência nesta atividade. Há um longo trabalho a ser feito quando observamos que o curso de Economia ocupou o 37º lugar na representatividade feminina entre os cursos com maior quantidade de matriculados. Isto significa uma representação feminina de 39% entre os matriculados em Economia, percentual bastante abaixo da média de representatividade. O resultado do Censo da Educação Superior de 2018 apresenta uma queda da participação feminina, entre os que estão cursando o curso de Economia, chegando a 35,13%[4].      

Quando se considera o universo científico, e não somente a economia, as mulheres compõem 55% dos que cursam graduação no país, 52% dos que cursam mestrado e 50% dos doutorandos (Revista Gênero e Número, 10 edição[5]). Ainda assim, de acordo com o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPq[6] –, “as mulheres estão abaixo dos homens em relação às lideranças de grupos de pesquisa (47%) […] e dos pesquisadores reconhecidos no meio científico como os de grande produtividade (36%)”.

Os múltiplos relatos pessoais de mulheres e os números acima apresentados corroboram o trivial, a discrepância e a desigualdade que separa homens e mulheres nas múltiplas áreas/ tarefas necessárias para a reprodução social.

Sociedade essa que, ao construir figurações sobre as coisas e circunstâncias com base em noções abstratas (“os homens”, “as mulheres”, dentre outras, claro), delimita seus papéis sociais. Assim, se são papéis sociais delimitados, então não se trata mais de homem/mulher em geral; são homens e mulheres inseridos, produtores e produzidos, em estruturas sociais específicas.

A luta por igualdade nessas circunstâncias é válida e necessária, obviamente. Mas é luta no interior e inspirada por tais estruturas e relações. Seria preciso, portanto, transcendê-las.

No último congresso da ANGE, discutimos sobre a presença das professoras nos cursos de Economia e estamos atentos a este assunto. Um primeiro passo é a busca pela inserção e igualdade de gênero, assim poderemos construir uma sociedade em que a maioria social esteja em uma agenda comum de lutas.

 

[1] IBGE. Pnad contínua. Dezembro de 2019.

[2] LUNDBERG, Shelly; STEARNS, Jenna.  Women in Economics: Stalled Progress. Journal of Economic Perspectives, 33 (1): 3-22. 2019.

[3] De acordo com ECONOMISTAS – Brazilian Women in Economics. As mulheres nos diferentes estágios da carreira acadêmica em Economia no Brasil. 03 dez de 2018 e KARPAVICIUS, Luiza et al. Diversidade de Gênero: a FEA em Números. Informações FIPE, n. 464, mai. 2019. Foram analisados dados do Censo da Educação Superior de 2015.

[4] INEP. Censo da educação superior. 2018. Disponível em: http://inep.gov.br/microdados. Acesso em 06 fev. de 2020. Agradecemos ao pesquisador Danilo Severian pela ajuda com os dados.

[5] Disponível em: http://www.generonumero.media/edicao-10/. Acesso em 07 fev. 2020.

[6] CNPq, 2018 Apud DUARTE. Rafael. Mandacaru científico. Disponível em: https://www.uol.com.br/ecoa/reportagens-especiais/causador-natalia-mota/#tematico-4. Acesso em 11 fev. 2020.

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