Presidente participou de debate sobre “Imprimir dinheiro pra quê?”

O presidente do Cofecon, Antonio Corrêa de Lacerda, participou nesta terça-feira de um debate promovido pela Central de Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB). O tema foi “Imprimir dinheiro pra quê?” e a conversa teve o objetivo de aprofundar a discussão sobre as consequências dessa medida. Além do presidente do Cofecon, participou o economista Rogério Studart, doutor pela Universidade de Londres. O vídeo do debate será disponibilizado no canal da CTB no site YouTube.

Lacerda se referiu à crise causada pela pandemia de Covid-19 como sendo a pior da história econômica mundial. “No Brasil, temos como agravante a crise política e a desgovernança do ponto de vista do governo federal, que bate cabeça e não tem uma estratégia adequada ao enfrentamento desta situação”, afirmou o presidente. “A pandemia e a crise escancaram as grandes debilidades estruturais do Brasil, que é um país muito desigual e com nível significativo de pobreza. Milhões de brasileiros não têm a opção do isolamento social, ou porque não têm casa, ou porque a moradia é precária, com muita gente num espaço diminuto. Quase 50% dos lares não têm saneamento básico”.

Ao entrar no tema específico do debate, Lacerda falou sobre o discurso, vindo desde a gestão de Joaquim Levy à frente do Ministério da Fazenda, de que o Estado não pode gastar, bem como a comparação com o orçamento de uma família. “O Estado não é uma família. Tem obrigações conferidas pela Constituição Federal. E detém o monopólio de emissão monetária e de dívida. As famílias têm limites para o endividamento, enquanto o limite do Estado é muito mais amplo”, questionou o presidente. “Há países que possuem dívidas de mais de 200% do seu PIB. Porque são gastões? Não. Porque têm obrigações. O Estado tem que gastar numa crise, e mais ainda na maior crise da história”.

O aumento dos gastos do Estado possui dois efeitos que foram apresentados pelo economista. “Cada real bem gasto tem um efeito multiplicador, vai gerar outros efeitos e, lá na ponta, gera nova arrecadação para o próprio Estado. Se não gastar, a depressão se aprofundará”, apontou Lacerda. “Há também o efeito demonstração, alavancando outros investimentos do setor privado. Dadas as condições brasileiras, o setor privado não tomará esta iniciativa, menos ainda num cenário de incertezas”.

No momento das perguntas, houve questionamentos quanto aos efeitos da emissão monetária. “A crise é deflacionária. Com uma queda muito grande na oferta e na demanda, ela não deixa muito espaço para o aumento da inflação. Há produtos subindo de preço, mas, na média, o que temos é uma deflação”, argumentou o presidente. Quanto à impressão de dinheiro, questionou-se o risco de ele ficar preso nos bancos. “Será necessário combinar um conjunto de medidas, um direcionamento destes recursos para chegar diretamente às pessoas. O Brasil tem boas experiências nisso, tem o cadastro do Bolsa-Família”.

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