Presidente fala sobre o Brasil pós-pandemia

  • 3 de julho de 2020
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O presidente do Cofecon, Antonio Corrêa de Lacerda, falou ao Clube de Engenharia sobre os aspectos econômicos do Brasil pós-pandemia em vídeo divulgado nesta sexta-feira (03). A instituição que tem promovido uma série de vídeos com o tema “Brasil Amanhã”, nos quais profissionais de diversas áreas discutem aspectos variados do país. Lacerda tratou do momento atual e das medidas necessárias para o enfrentamento das consequências econômicas da Covid-19. O vídeo pode ser visto AQUI.

“O mundo vive sua maior crise na fase da globalização”, afirmou o presidente. “Ela é diferente porque não começa na área econômica ou financeira. Advém de uma pandemia. Não é novidade o mundo enfrentar uma pandemia; mas ela ocorre sem controle, e num momento em que a economia internacional está fortemente conectada. A crise se retroalimenta. Há incertezas, o único remédio é o isolamento social e isso tem suas implicações econômicas”.

À crise de saúde e econômica, Lacerda acrescento uma terceira que afeta o Barsil: a política, causada pela incapacidade de governança do Poder Executivo. “A crise política tem seus desdobramentos na economia e na própria duração da pandemia, pela ausência de estratégia, de capacidade de coordenação com os demais poderes. Implicará numa queda inédita do PIB, que pode chegar a dois dígitos, e desdobramentos em 2021”. O país vinha de três anos com crescimento da ordem de 1% – algo caracterizado pelo presidente como “quase um crescimento vegetativo” – e 26 milhões de pessoas estão afastadas do mercado de trabalho, entre desempregados, desalentados ou subocupados, um número que pode chegar a 40 milhões.

O economista argumentou ainda que a pandemia escancara problemas sociais que jamais foram enfrentados. “Quando falamos de isolamento, falamos de uma parcela privilegiada da sociedade, que tem renda e uma moradia adequada. Milhões de brasileiros vivem em moradias precárias, sem acesso a saneamento básico”.

Lacerda, que é organizador do livro O Mito da Austeridade, defendeu uma renda básica para as pessoas que estão afastadas de suas atividades e gastos da ordem de um trilhão de reais, criticou a Emenda Constitucional do teto de gastos. “Não há outra saída a não ser ampliar os gastos públicos. Numa crise econômica, o Estado tem que cumprir seu papel anticíclico. A dívida pública vai, sim, crescer, pode atingir 100% do PIB em um ou dois anos, mas não é hora de olhar o tamanho dos gastos. É preciso que o Estado gaste bem, porque é a forma que se tem de amenizar o efeito da crise. Não há outra saída”. Rechaçou também a comparação que se faz entre o orçamento familiar e o orçamento público e afirmou que os países do G20 são deficitários e possuem um endividamento expressivo. “E isso não se dá porque sejam gastões inveterados, mas porque a Constituição lhes dá uma série de obrigações e, por várias circunstâncias, o orçamento não é suficiente para cumpri-las. É preciso garantir recursos para a saúde, e garantir recursos para as pessoas, para que elas possam sobreviver, se alimentar, se vestir, até porque isso também favorece a atividade econômica”.

Ao falar sobre os pontos fracos do Brasil, afirmou que eles são também oportunidades. “Temos uma demanda reprimida nas áreas de infraestrutura, logística, saúde, educação e habitação. Mas isso não será suprido de forma automática, nem somente via mercado. É importante a participação do mercado, mas é imprescindível a atuação do Estado e neste momento estamos no menor nível de investimento da nossa história”, apontou o presidente. “O Brasil tem amplas condições de vencer a crise. Mas isso não é automático. Depende, primeiro, das condições de governabilidade”. Relembrou Celso Furtado, economista que neste ano completaria 100 anos: em seu livro Brasil, A Construção Interrompida, ele afirma que o Brasil perdeu o rumo nos anos 80 e não encontrou mais. “É preciso reconstruir as bases do desenvolvimento brasileiro e romper velhos paradigmas”, concluiu Lacerda.

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