Artigo – A produtividade e a agenda Brasil
A busca por ganhos de produtividade nunca esteve como prioridade na agenda de desenvolvimento do Brasil. Sem a implantação de políticas que estimulem a difusão do conhecimento, o estímulo ao progresso tecnológico e à inovação, os impactos sociais e econômicos que o avanço dela proporciona não serão alcançados.
É na produtividade que se encontra o principal fator de impulso ao crescimento e à melhoria na qualidade de vida dos países; para as empresas, ela determina a competitividade, sem a qual não se consegue criar vantagens competitivas que proporcionem sucesso na concorrência em mercados abertos.
Desde os anos 1980, a nossa produtividade do trabalho desabou. Na década de 1990, ficou praticamente estagnada e, neste século, seu crescimento foi inferior a 1% ao ano, bem abaixo dos 2% nos EUA, dos 5% na Coreia do Sul e dos 10% na China. Segundo a OCDE, entre 2004 e 2014 o avanço da produtividade do trabalho perdeu força e 90% dos seus filiados experimentaram declínio nesse indicador.
Esta catástrofe atual é resultado de más políticas em diversos setores. Infraestrutura e educação são exemplos, pois, se naquela o colapso nas contas públicas estrangula os investimentos governamentais, existe o agravante do marco regulatório que ainda não é atraente para o capital privado; nesta, houve uma expansão na rede física e no acesso à escola, porém os resultados das avaliações evidenciam que a qualidade no ensino continua aquém do necessário.
No âmbito externo, o Brasil permanece com baixa inserção na economia mundial, o que, por um lado, limita o acesso à tecnologia e, por outro, restringe a concorrência interna, esses golpes duros e simultâneos na busca pela inovação limitam os avanços da produtividade.
Conseguir uma participação relevante no cenário internacional e inserção nas cadeias produtivas globais é condição indispensável para a retomada do ritmo necessário ao avanço da produtividade. Desse modo, deve-se atrair crescentes capitais externos, reduzir as tarifas de importação e revisar as distorções causadas por desonerações tributárias e excessos nos incentivos ao conteúdo nacional.
A importância e prioridade destinadas a este tema fazem a diferença entre a economia desejada, moderna na configuração e sustentável no crescimento, e a ausência de dinamismo, atraso e sucateamento.
Lauro Chaves Neto é presidente do Conselho Regional de Economia, consultor, professor da Uece e doutor em Desenvolvimento Regional. Artigo publicado originalmente no jornal O Povo.