Brasileiros vencem Olimpíada de Economia
Pela segunda vez consecutiva, uma equipe composta por estudantes brasileiros obteve o primeiro lugar geral na Olimpíada Internacional de Economia. O time formado por Guilhermo Cutrim Costa, Luiz Eduardo Tojal Ramos Santos, Icaro Andrade Souza Bacelar, Ishan Matheus de Campos Unni e Diogo Mendonça Leite sagrou-se campeão obtendo três medalhas de ouro e duas de prata. Ao todo, 29 delegações de diferentes países participaram da competição.
A disputa consiste em três etapas: um business case, no qual os estudantes recebem um problema e precisam trazer soluções adequadas; uma prova de economia; e uma prova de finanças, que nos últimos anos consistiu num simulador no qual o aluno tinha que tomar decisões de investimento com base em algumas situações de mercado expostas. “Um modelo fictício, mas com algumas variáveis que vemos hoje na sociedade”, comenta Gabriel Zimmermann, um dos líderes do time brasileiro. Individualmente são distribuídas 10 medalhas de ouro, 15 de prata e 30 de bronze.
Neste ano, o business case consistia em desafiar os estudantes a assumirem o papel de um potencial fabricante de vacina para a Covid-19 e planejar soluções para uma distribuição rápida, efetiva e justa no mercado internacional, incluindo a precificação.
Olimpíada Brasileira de Economia
Para participar da Olimpíada Internacional de Economia (IEO, na sigla em inglês para International Economics Olympiad), os estudantes tiveram que passar primeiro pela Olimpíada Brasileira de Economia (Obecon). A competição é dividida em três etapas. A primeira traz numa prova de múltipla escolha com 40 questões abordando conceitos básicos de economia. A segunda é uma prova escrita com 10 questões objetivas e seis dissertativas (sendo três de cálculo e três de modelos econômicos), nas quais aparecem temas mais técnicos. A terceira consiste num business case, no qual o senso de negócios é um ponto fundamental, já que é bastante explorado na competição internacional.
A Obecon possui duas categorias: a oficial e a aberta. A categoria oficial é restrita a estudantes do ensino médio e seleciona cinco deles para compor o time brasileiro na IEO. Já a categoria aberta é para os demais participantes que desejam conhecer o projeto, saber mais sobre economia e medir seus próprios conhecimentos. Nos últimos anos, cerca de 2.000 a 2.500 estudantes se inscreveram na Obecon.
“O aluno que vai para a Olimpíada Internacional precisa ter uma performance muito boa em todas as provas e elas se complementam em termos de resultados”, afirma Zimmermann. “Cada prova acaba abrangendo um conceito, um tema específico, a terceira fase é algo que acontece na Olimpíada Internacional, então o aluno já é preparado previamente. A segunda etapa da Obecon já tem um nível muito mais elevado que a IEO, nós cobramos um nível maior de excelência para que eles tenham um resultado excepcional”.
Edições anteriores
A Olimpíada Internacional de Economia é um evento ainda bastante recente, especialmente se comparada a competições similares de outros campos do conhecimento. A primeira edição foi realizada em Moscou, na Rússia, no ano de 2018, com equipes de 13 países – alguns deles participaram com mais de uma delegação. O Brasil obteve duas medalhas de ouro, com os estudantes Marcio Akira Imanishi de Moraes e Rafael Carlini, e duas de prata, com Henrique Lasevicius Azevedo e Tomas Aguirre Lessa Vaz. Já na premiação por equipes, a delegação brasileira ganhou uma estatueta de bronze.
No ano passado a competição ocorreu em julho, contou com um número maior de países (24) e foi sediada em Saint Petersburg, também na Rússia. Guilhermo Cutrim Costa, Guilherme Leal Cardoso Pita e Vinicius Alves Teixeira ganharam medalhas de ouro, enquanto Victor Cortez Crocia Barros ganhou uma de prata e Rafael Akira Okamura Ferro obteve uma de bronze. O desempenho valeu à delegação brasileira a estatueta de ouro.
Um campeão no MIT
O estudante Guilhermo Cutrim falou sobre sua experiência na competição. “A viagem para a Rússia foi muito divertida, em especial porque o Germano, um dos fundadores da Obecon, fala russo e tem um conhecimento profundo da cultura russa”, conta Cutrim. “A disputa em si foi muito emocionante: nós não soubemos o resultado até o último minuto! A felicidade quando o resultado saiu foi indescritível”. Além da medalha de ouro, ele obteve a segunda melhor pontuação geral.
O interesse pela economia surgiu a partir da leitura de O Caso Contra a Educação, de Bryan Caplan. “Foi o primeiro livro que eu li escrito por um economista, e eu fiquei impressionado com o jeito de pensar da disciplina. Ele tirou da minha cabeça a ideia que os economistas estudam dinheiro e me mostrou como eles tentam modelar o comportamento humano”, explica o estudante. “Eu comecei a achar a área bem interessante, então, quando eu ouvi falar da Obecon, vi uma boa oportunidade para eu me aprofundar nela”.
Cutrim também já participou de atividades semelhantes em outras áreas das ciências. Uma semana antes da viagem para a disputa da IEO, ele ganhou uma medalha de prata na Olimpíada Internacional de Física, em Israel. No ano anterior ele também havia obtido uma medalha de prata no Torneio Internacional de Jovens Físicos (IYPT), disputado na China.
Em 2020, devido à pandemia, a IEO foi realizada de forma online, durante os dias 7 a 13 de setembro. Com quatro colegas diferentes, Guilhermo novamente fez parte da equipe brasileira, e não apenas obteve um novo campeonato por equipes, como também conquistou sua segunda medalha de ouro e outra vez foi o segundo colocado geral, numa competição que, na opinião dele, foi mais exigente do que a do ano anterior. “Isso foi especialmente claro na prova de teoria econômica: a questão de teoria de jogos desse ano exigia um nível matemático bem mais elevado do que aquela da do ano passado”, confirma.
Mas as medalhas em competições de conhecimento não foram a única recompensa alcançada pelo estudante paulista. Guilhermo Cutrim Costa foi aceito para estudar no Massachusetts Institute of Technology (MIT), instituição que foi o berço de diversos ganhadores do Prêmio Nobel de Economia. “Fiquei chocado! Tive que esperar cinco meses para saber o resultado da minha candidatura, e, como não tinha sido aceito na primeira rodada de aceitações, eu estava com baixas expectativas”, conta Guilhermo. “Tive que ler a carta de aceitação umas cinco vezes para ter certeza que havia sido aceito. Estou bastante animado para começar meus estudos no ano que vem”.