Artigo – Piorou com Temer 4 – Ética
Nesse último artigo de balanço dos oito meses do Governo Temer, abordo a dimensão ética. Penso que não pode ter passado pela cabeça de qualquer pessoa sã que o Governo Temer promoveria uma limpeza ética no país tendo conhecimento do Ministério por ele formado, a começar pelo seu quarteto de ferro.
A verdade é que ética e capitalismo são como água e vinho. Mas há a “ética do capital” – num mundo de domínio completo do capital financeiro e progressiva cartelização dos diversos setores da economia – que consiste em maximizar seus lucros, mesmo que retirando-se direitos sociais e comprimindo-se salários, resultando num aumento brutal da já extrema desigualdade social.
Quando a crise fiscal despontou em 2014 no Brasil, o capital financeiro impôs à Dilma a indicação de Levy para promover um forte ajuste fiscal que garantisse tranquilidade aos investidores/especuladores. Ela bem que tentou, lamentavelmente, mas sua base social resistiu, ela titubeou e foi “exonerada” do cargo.
Consumado o golpe, Temer recebeu da “junta financeira” a mesma missão, um ajuste fiscal assentado numa brutal redução dos gastos sociais. Daí adviram a PEC 55 e as reformas previdenciária e trabalhista. Embora 77% dos brasileiros, segundo o Datafolha, entendam que a PEC 55 trará prejuízos ao país e ao povo, a “ética do capital” “seduziu” parlamentares, juízes e até bons economistas.
Triste assistir, na votação da PEC 55 no Senado, políticos de nossa cidade, que se elegeram encarnando a defesa da ética, da educação pública e da absoluta parcimônia com o uso dos recursos públicos, se dobrarem à “ética do capital” e votarem junto com um governo presidido por alguém citado 43 vezes na “Lava Jato”. Nesses tempos de ética seletiva, bem disse o humorista José Simão, “Contas em bancos da Suíça podem incriminar Serra, mas se a Suíça fosse em São Paulo, Serra seria absolvido, pois onde já se viu a justiça paulista condenar um tucano?”
Júlio Miragaya, presidente do Cofecon