Artigo – Devagar com o andor
Diz-se que resultado de eleição é como final de campeonato de futebol, os vencedores são tomados por extrema euforia e os perdedores por total desânimo. Nada que não seja alterado por uma nova eleição ou campeonato.
O quadro das eleições municipais no Brasil revela muitas verdades: o PMDB obteve um resultado medíocre, sendo fragorosamente derrotado nas três principais capitais (São Paulo, Rio e BH); Temer se torna refém do PSDB de Alckmin, que foi o grande vitorioso; o PT sofreu derrota avassaladora, atingido fortemente pela Lava Jato e pela onda conservadora.
Mas ao lado do avanço dos partidos de direita e da grande derrota eleitoral do PT, há que se ressaltar dois aspectos relevantes: primeiramente, o inédito percentual de abstenções, votos nulos e brancos. Nada menos que 41,6 milhões de eleitores se abstiveram de votar, anularam o voto ou votaram em branco, totalizando mais que os 39,3 milhões de votos para prefeito obtidos pelos três principais partidos (PSDB, PMDB e PT).
Outro aspecto a ser destacado é o avanço da extrema fragmentação do quadro partidário no Brasil. Os três principais partidos tiveram somente 23,5% dos votos para as Câmaras Municipais. Outros três tradicionais (PSB, PDT e DEM) tiveram 16,1%. Excluindo-se os pequenos partidos ideológicos, 23 fisiológicos tiveram 56,02% dos votos. Em São Paulo, Doria governará com 11 vereadores tucanos num total de 55, ou seja, apenas 20% da bancada. E o mais incrível: é um dos que tem maior proporção de correligionários eleitos.
Quanto à onda conservadora, é preciso ir devagar com o andor, pois a história não se conta em semanas ou meses, mas em anos e décadas. Após Margareth Thatcher vencer de forma avassaladora as eleições de 1983, muitos acreditavam que o Partido Trabalhista Britânico estava irremediavelmente destruído e anos depois ele retornaria ao poder. Até 2018, muita água ainda vai rolar debaixo da ponte.
Júlio Miragaya – Presidente do Conselho Federal de Economia.