Artigo – Cortina de fumaça

  • 22 de setembro de 2016
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Qual deve ser a principal preocupação do governo Temer? Grande parte dos brasileiros responderia “crescimento econômico”, “educação”, “acabar com a corrupção” ou “saúde”. No entanto, enquete realizada por um grande jornal com 199 entre os 1.000 maiores empresários brasileiros mostrou que apenas 2% deles defendem como prioridade o combate à corrupção, enquanto educação e crescimento econômico mereceram a preocupação de 1%. O que de fato esperam é a aprovação do congelamento de gastos com saúde e educação (47%) e das reformas previdenciária (22%) e trabalhista (10%). Para 80%, portanto, Temer deve cortar gastos e direitos sociais.

A enquete explica muito do que se passa hoje no Brasil. Dilma não foi deposta pelas supostas “pedaladas” e tampouco por corrupção. O real motivo foi a incapacidade de promover o ajuste fiscal na escala e intensidade que a elite desejava. Ela até tentou, mas sua base social se rebelou, ela titubeou, e aí não teve perdão. O roteiro elaborado pela elite econômica prevê que o governo Temer, impopular e destituído de legitimidade, deva cumprir este papel e preparar o terreno para 2018. Mas aí mora o perigo: Lula lidera as pesquisas para presidente em 2018 e ele expressaria toda a resistência da população ao ajuste. Isso implica que ele deve ser apeado da disputa.

Daí advém o patético indiciamento do ex-presidente Lula, acusado de ser o “chefe máximo” do esquema de corrupção no País. Como alguém comanda um esquema de propina de R$ 30 bilhões e puxa para si tão somente as reformas de um apartamento e de uma chácara, que nem a ele pertencem, e que somam meros R$ 3 milhões? Como o “chefe supremo” do esquema fica com um décimo de milésimo do total desviado quando teve gerente da Petrobrás (indicado pelo PMDB) levando 200 milhões de dólares, duzentas vezes mais. É triste ver tão patética acusação ser cinicamente endossada por cientistas políticos ou um ou outro jornalista adocicado (ou azedo). É muito escárnio com a inteligência do brasileiro.

Júlio Miragaya –  Presidente do Conselho Federal de Economia.

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