Márcio Pochmann: “Há uma expropriação de renda e riqueza dos muito pobres e isso aumenta a desigualdade no país”

  • 8 de setembro de 2021
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Durante a sua fala na palestra “Políticas de emprego” no Congresso Brasileiro de Economia, o economista Márcio Pochmann, professor do Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas, traçou um histórico de três fases das relações “emprego e desemprego” na história do Brasil. “Eu gostaria de chamar atenção para o fato de que do ponto de vista da perspectiva histórica, nós estamos na terceira fase do que podemos situar a situação do emprego como a massa sobrante do capitalismo brasileiro”.

O que seria a primeira fase da história dessa massa sobrante do capitalismo brasileiro, segundo o economista é aquela que surge após o fim do trabalho escravo e vai até ao final da República Velha. “Existia nesse período uma grande parcela da população trabalhadora do Brasil vivendo à margem do que o capitalismo e o desenvolvimento pelo mercado possibilitava”.

Essas pessoas, de acordo com Pochmann, seriam aquelas que, durante a transição da economia agrária e mercantil para uma economia capitalista assentada no trabalho livre, não eram imigrantes brancos. “Se conformou uma massa de inorgânicos, pois eram trabalhadores sobrantes e não faziam parte das principais atividade capitalistas, que eram voltadas para o exterior. Eram pessoas que desenvolviam atividades de subsistência à margem desse sistema”.

A segunda fase é aquela que decorre entre as décadas de 1930 e 1980, na qual houve uma transição da sociedade agrária para uma sociedade urbana e industrial. “Surge o projeto dos tenentistas, que concebem uma sociedade com forte presença do estado e há um movimento de transformar esses inorgânicos em proletários na cidade, trabalhadores ocupados no setor industrial, mas também no comércio e nos serviços”. De acordo com Pochmann, isso resultou em decrescimento da subutilização dos trabalhadores, principalmente devido à políticas como as de previdência e leis trabalhistas.

“O Brasil vivia uma situação de quase pleno emprego. É claro, existia muito trabalho informal neste período, mas havia uma funcionalidade entre o trabalho formal e informal, não havia uma oposição. A informalização permitia uma integração sob a lógica da expansão do capitalismo brasileiro”, afirmou o economista.

A terceira fase, se inicia a partir dos anos de 1990, quando o Brasil ingressa na globalização. “Isso gerou um movimento conhecido hoje como desindustrialização, que foi acompanhada de uma maior informalidade e do desemprego aberto”. O economista trouxe o alarmante dado de que no Brasil hoje nós temos a cada 3 trabalhadores um está procurando trabalho. “Esse é um quadro urbano, e esta fase revela uma massa sobrante de força de trabalho muito grande. Mesmo a população crescendo em menor ritmo, ela cresce desacompanhada da expansão econômica”.

“Hoje nós temos uma espécie de inchamento do setor de serviços com uma contida remuneração e com empregos precários. Fecha um indústria como a Ford e inauguram-se empreendimentos como pequenos negócios, que têm uma ocupação e renda mas a produtividade é menor”. De acordo com Pochmann o Brasil está estagnado. “O último ano de crescimento foi em 2013, desde então não houve crescimento do PIB per capita”.

No final de sua fala, Márcio Pochmann citou que houve um enxugamento da economia brasileira, mas houve um aumento do número de bilionários no Brasil. “Isso significa que há uma expropriação de renda e riqueza dos muito pobres e isso aumenta a desigualdade no país”. Para o economista, esse cenário coloca um desafio muito grande no que diz respeito ao país voltar a crescer economicamente.

Márcio Pochmann possui graduação em Economia pela UFRGS, especialização em Ciências Políticas pela UDF e doutorado em Ciência Econômica pela Unicamp. Atualmente é professor titular no Instituto de Economia da Unicamp. Tem experiência na área de Economia, com ênfase em Economia Social e do Trabalho, atuando principalmente nos seguintes temas: emprego, educação, relações de trabalho, sindicalismo e políticas públicas sociais e de mercado de trabalho.

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