Crítica da mídia

  • 20 de outubro de 2021
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Anualmente, o Cofecon entrega o prêmio Destaque Econômico, que contempla três categorias: Academia, Desempenho Técnico e Mídia. Esta última, conforme o texto da Resolução 1.892, tem por finalidade “nobilitar as entidades de comunicação que tenham transmitido à sociedade informações de natureza econômica de elevada qualidade”.

Em 2019 o ganhador na categoria foi o Portal GGN, cujo autor – o jornalista Luís Nassif – lançou neste ano o livro “O Caso Veja” (Editora Kotter, 344 páginas), à venda em diversos sites. “Neste livro, um pouco da história da imprensa e do apogeu e queda da imprensa brasileira. E uma análise de como a desorganização da informação, promovida pela mídia, desestruturou todos os poderes e levou o país ao maior retrocesso civilizatório da sua história”, afirma o site da editora.

A revista CartaCapital publicou recentemente uma resenha do livro. “Nos Estados Unidos e na Europa, os meios de comunicação não escapam do escrutínio dos próprios pares”, inicia o texto do jornalista Sérgio Lírio. “Não fosse a vigilância, os conglomerados, mais do que conseguem nos dias atuais, teriam submetido a democracia aos seus caprichos”.

Leia a seguir a resenha publicada:

Resenha: Em O Caso Veja, Luis Nassif relembra um período obscuro da imprensa e produz um manual de bom jornalismo

Por Sergio Lirio

Nos Estados Unidos e na Europa, os meios de comunicação não escapam do escrutínio dos próprios pares. A cobertura atenta lastreia-se em uma constatação óbvia: a mídia é parte da estrutura do poder, o quarto, dizem, não uma entidade canônica livre de vícios, composta por santos e santas iluminados pela verdade incontestável. Erros, tramoias, negociatas e desvios éticos merecem, portanto, a atenção do próprio jornalismo, como qualquer instituição. Não fosse a vigilância, os conglomerados, mais do que conseguem nos dias atuais, teriam submetido a democracia aos seus caprichos.

No Brasil do oligopólio-quase monopólio midiático, a virtude foi, no entanto, transformada em vício. No lugar da crítica embasada, as quatro ou cinco famílias que dominam o espectro midiático sustentam um pacto: entre elas, prospera a bajulação mútua e a remissão dos pecados. Aos desafetos reserva-se a calúnia e os assassinatos de reputação. A falta de profissionalismo do autoproclamado “jornalismo profissional” atinge, neste momento, os píncaros da cafajestagem – e é dado aos pistoleiros a serviço dos donos a licença para matar, a qualquer custo. Luís Nassif tem sido testemunha e vítima dessa máquina de difamação. Só por essa razão, estaria plenamente habilitado a produzir uma análise das escolhas que empurraram os meios de comunicação, de tantos desserviços ao País, ao período mais vergonhoso de sua história. A qualidade da obra está, porém, na capacidade de distanciamento do jornalista.

O Caso Veja reflete o amadurecimento das reflexões de Nassif, conforme os primeiros textos que produziu a partir da primeira década deste século e no limiar da mídia on-line, da qual também foi um pioneiro. Não se trata de uma escolha aleatória: a revista Veja simboliza a cruzada midiática contra o Brasil, ou ao menos contra um Brasil mais democrático e justo. Seu comandante à época, Victor Civita, herdeiro do Grupo Abril, pretendia personificar a versão cabocla de Rupert Murdoch, magnata da mídia fundador da Fox News que enriqueceu à custa de escândalos, manipulações e ameaças.

Passadas quase duas décadas da “aventura”, Civita está morto e a Abril desapareceu do mapa, mas o País sonhado, em certa medida, prospera, mergulhado no lodo das fake news, da ignorância altiva e da descrença generalizada nos valores básicos do Estado de Direito. O Caso Veja é, ao mesmo tempo, um registro histórico e um primoroso manual de jornalismo. O livro peca, no entanto, por certas lacunas. O autor não é um lobo solitário na denúncia dos abusos da mídia, como deixa a entender em inúmeros trechos. CartaCapital ao longo de seus 27 anos, dedicou inúmeras reportagens às tentativas dos “barões da imprensa” de influenciar jogo eleitoral ou impor seus interesses econômicos imediatos, normalmente dissociados das necessidades do País, quando não opostos. O editorial do jornal O Globo citado em uma das páginas do livro, “Victor Civita não é Rupert Murdoch”, não brotou da criatividade dos escribas a serviço da família Marinho. Foi uma resposta a uma capa desta revista que enfatizava a comparação, a partir do escândalo da associação criminosa da Abril com o doleiro Carlinhos Cachoeira.

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