Lacerda fala sobre política industrial em webinar
O presidente do Conselho Federal de Economia (Cofecon), Antonio Corrêa de Lacerda, participou de webinar da Fundação Nacional da Qualidade (FNQ) na última quinta-feira (18). Com o tema “Política industrial ainda faz sentido?”, o evento foi conduzido pelo presidente executivo da FNQ e membro do Conselho Superior de Inovação e Competitividade (Conic) da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Ronald Dauscha.
Ao iniciar a conversa, Lacerda introduziu a política industrial e utilizou a China para situar o debate, já que o país asiático ficou conhecido como a “fábrica do mundo” após o rápido desenvolvimento industrial. “A China, do ponto de vista macroeconômico, usou a política cambial como um instrumento de competitividade. Isso pode soar óbvio, mas o Brasil, nos últimos 40 anos, usou a política cambial mais como um instrumento de busca pela estabilização e de controle da inflação do que como uma política de desenvolvimento”, analisa o presidente do Cofecon.
Apesar do sucesso, Lacerda lembrou que existem diversos fatores controversos no modelo chinês. A superexploração da mão de obra e o descompromisso com o meio ambiente são alguns exemplos. “Não estamos defendendo esse modelo. Estamos pegando a parte inteligente para fazer um contraponto com a experiência brasileira nas últimas décadas”, explica.
Segundo Lacerda, observa-se um descompasso atualmente: o país, no ponto de vista comercial, é superavitário em agricultura, pecuária, petróleo e minério de ferro, mas deficitário no que agrega valor, como tecnologia. “No geral, o Brasil é um dos grandes exportadores das commodities, mas, em um país com as dimensões brasileiras, só isso não atende às necessidades de desenvolvimento”, afirma.
O presidente do Cofecon também comentou as vantagens comparativas desses produtos que são praticamente exclusivos do Brasil por conta do clima e da vegetação. Por este motivo, as commodities se tornaram ativos financeiros e houve uma valorização de seus preços. “É muito importante que se dê o espaço correto para que não haja uma desindustrialização no país. O Brasil é um dos poucos países do mundo que pode ser muito bom no que faz, mas sem desvalorizar a produção industrial e os serviços”, afirma Lacerda.
Ao ser questionado sobre a possibilidade de reverter essa situação no Brasil, Lacerda diz que seria preciso “uma articulação maior entre os envolvidos para que o setor produtivo se vinculasse mais com universidades e institutos”. Para ele, também é fundamental que o setor empresarial esteja equipado com pessoas que conheçam do assunto para que possam aproveitar as boas práticas internacionais e a história brasileira econômica.
Mas existe uma forma que possa garantir uma determinada política industrial a longo prazo? Lacerda afirma que são as políticas de estado que garantem a durabilidade das iniciativas, não as políticas de governo. Segundo ele, essa preservação da estabilidade de regras é fundamental para decisões de investimentos.
O presidente do Cofecon encerrou o webinar com uma visão otimista. “Não adianta negarmos a complexidade dos problemas brasileiros, que são enormes, mas devemos lembrar que poucos países têm a potencialidade que o Brasil”, finaliza.