Em entrevista, Lacerda fala sobre reindustrialização brasileira

  • 17 de janeiro de 2023
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O conselheiro federal Antonio Corrêa de Lacerda concedeu uma entrevista à Rede Brasil Atual para falar sobre seu livro mais recente, “Reindustrialização: para o desenvolvimento brasileiro”. A obra teve seu lançamento em dezembro, na Livraria da Vila, em São Paulo.

O livro está organizado em cinco capítulos e tem como coautores Antonio Corrêa de Lacerda, Carlos Eduardo F. Cabral, Danilo Severian, Emerson Braz, Luiz Niemeyer, Matheus Lemes, Norma Cristina Brasil Casseb e Regina Maria A. F. Gadelha. É uma coletânea das provocações, diagnósticos e resultados de estudos elaborados pelo Grupo de Pesquisas “Desenvolvimento e Política Econômica” (DEPE), da PUC-SP, e empreende uma ampla discussão a respeito dos limites impostos pela desindustrialização, bem como sobre as possiblidades da reindustrialização brasileira como política de desenvolvimento econômico e social. A obra apresenta tanto reflexões teóricas em torno da temática quanto uma análise aguda do quadro internacional e da posição brasileira nesse cenário.

Leia a seguir a entrevista publicada pelo site da Rede Brasil Atual, cuja publicação original pode ser acessada AQUI:

No lançamento do livro, você falou que não pode haver uma “volta ao passado”. O que significa, hoje, pensar em políticas industriais no Brasil? Qual o peso da indústria brasileira nessa “reconstrução”?

Fiz a menção porque é um reconhecimento de que o Brasil venceu o desafio de se industrializar no século 20. Nas últimas décadas vivemos um processo de desindustrialização precoce. Agora, portanto, o desafio é a reindustrialização considerando as novas circunstâncias, da pós-globalização, pós-guerra Rússia e Ucrânia e pós-pandemia. Isso amplia o esforço necessário. Por outro lado, as transições para a economia do baixo carbono, para a economia verde e a economia digital nos abrem novas oportunidades. Os países estão repensando a localização dos seus investimentos e o Brasil tem boas chances, desde que adote medidas para isso.

Qual é o papel do Estado nesse processo?

É fundamental. Veja Estados Unidos, Alemanha, Coreia do Sul e China. Quatro países de características estruturais diferenciados entre si e também em diferentes estágios de desenvolvimento. O que há de comum entre eles? O papel do Estado, em coesão com a indústria e institutos de pesquisa em prol da industrialização renovada como base para o desenvolvimento. O Brasil pode e deve se espelhar nesses modelos, não necessariamente copiando-os, mas a la Oswald de Andrade, numa antropofagia, tropicalizando boas experiências internacionais e a nossa própria.

O ressurgimento do Ministério da Indústria e Comércio, por si só, conseguirá recolocar a política industrial na agenda econômica do país?

Como integrante do governo de transição, na área econômica, vejo como um grande avanço a recriação dos ministérios da Planejamento, assim como o de Desenvolvimento Industrial e Comércio Exterior. Também houve o desmembramento do ministério da Gestão, outro grande avanço. No caso específico do MDIC, isso vai recolocar o tema da política industrial de volta à agenda, de onde nunca deveria ter saído. A nomeação do vice-presidente (Geraldo) Alckmin como titular da pasta sem dúvida representa o seu empoderamento.

As dificuldades são mais de ordem política do que econômica?

Há a questão da correlação de forças e no Brasil há a supremacia do setor financeiro e do agronegócio na definição da política econômica. A indústria brasileira, o comercio e os serviços precisam exercer maior influência no Executivo e no Legislativo para fazer valer seus interesses. Claro que tudo deve ser em prol do desenvolvimento da nação e não vantagens setoriais.

Com a cobertura jornalística dominada pelo mercado financeiro, falta uma visão mais abrangente sobre a importância do setor industrial?

Sim. O debate público via mídia é dominado pelos interesses rentistas. É preciso ampliar os espaços para discussão das questões ligadas ao desenvolvimento, e vejo que há boas possibilidades de recolocar a questão. A começar com uma atuação mais firme das entidades representativas dos setores produtivos e da própria sociedade, no sentido de democratizar as decisões econômicas.

Reindustrialização: para o desenvolvimento brasileiro 

Autor: Antonio Corrêa de Lacerda 

Coautores: Antonio Corrêa de Lacerda, Carlos Eduardo F. Cabral, Danilo Severian, Emerson Braz, Luiz Niemeyer, Matheus Lemes, Norma Cristina Brasil Casseb e Regina Maria A. F. Gadelha 

Páginas: 200 

Editora: Contracorrente

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