PIB 2022: O que esse número diz sobre o último ano de governo de Bolsonaro?

  • 30 de março de 2023
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*Matéria publicada originalmente em inglês no portal Her Campus da Casper Líbero , por Catarina Nestlehner 

2022 foi um ano turbulento para o Brasil. Não que o Brasil tenha tido um ano muito confortável ultimamente, mas 2022 teve suas dificuldades. O país estava – e ainda está – se recuperando das medidas da pandemia e retomando as atividades econômicas, enquanto lidava com uma das eleições mais polarizadas do país. Jair Bolsonaro (PL) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT) se confrontaram oficialmente em outubro, mas muitas medidas foram tomadas antes para aproximar mais eleitores.

Algumas dessas medidas e o contexto em que o Brasil se encontrava resultaram em um número, que contabiliza todos os bens e serviços produzidos pelo país em um determinado período de tempo. Publicado em 2 de março de 2023, o PIB (Produto Interno Bruto), poderia ser usado para mostrar como o último ano do governo Bolsonaro afetou não apenas a política no país, mas também as disposições econômicas.

De acordo com o Sistema de Contas Nacionais do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o PIB no Brasil aumentou 2,9% em 2022, totalizando R$ 9,9 trilhões. O último resultado desta pesquisa referiu-se ao último trimestre, que mostrou uma variação de -0,2% neste período. O PIB per capita atingiu R$ 46.155 no ano passado, um aumento de 2,2%.

Este número é maior do que a média anual que havia sido obtida nos últimos 40 anos, que era de 2,3%. Então, está acima da média no longo prazo, mas ainda é um crescimento muito baixo, especialmente para um país em desenvolvimento, como explicou o conselheiro e coordenador da Comissão de Política Econômica do Cofecon, Fernando de Aquino. Ele acrescentou que acabou beneficiando muito as instituições financeiras e os agentes que possuem aplicações financeiras, devido ao alto valor das taxas de juros no Brasil.

O QUE TUDO ISSO SIGNIFICA?

 Roberto Piscitelli, membro da Comissão de Política Econômica do Cofecon, destaca que 2022 foi um ano eleitoral, com agravamento de incertezas intermitentes e, ao mesmo tempo, marcado por medidas tendentes a aliviar o peso sobre os contribuintes e estimular o consumo dos eleitores, transferindo responsabilidades para o novo governo. “Apesar das incertezas, o maior crescimento do consumo se refletiu em índices setoriais, principalmente com a expansão dos serviços”, explica.

Outro aspecto de 2022 foram as altas taxas de inflação que resultaram em sucessivos aumentos nas taxas de juros pelo Banco Central, diz o professor e economista Jefferson Mariano. Ele explica que, em relação ao mercado de trabalho, as taxas de desemprego permaneceram em níveis elevados. “Somente a partir do segundo semestre é que ocorre uma queda nas taxas de desemprego e também uma redução nas taxas de inflação”.

De acordo com Piscitelli, o aumento dos gastos do governo, associado à maior disponibilidade de recursos da população em geral, contribuiu decisivamente para o crescimento econômico. Ao mesmo tempo, o endividamento das pessoas atingiu níveis sem precedentes, uma vez que a melhoria no mercado de trabalho ocorreu principalmente com o aumento da informalidade e da precariedade das relações de trabalho.

Houve um grande esforço em direção às transferências e isso acabou incentivando o consumo e alcançando um resultado de crescimento do PIB acima da média. “O problema é que não é um crescimento sustentável, e isso traz dificuldades para gerenciar. Portanto, houve um gasto excessivo populista tornando difícil gerenciar a economia”, diz Fernando de Aquino. “Esta foi uma política populista que estava tentando aumentar a votação”.

SETOR DE SERVIÇOS

O setor de serviços tem a maior participação no PIB (corresponde a serviços e negócios). Jefferson Mariano explica que não houve medidas significativas que contribuíssem para a recuperação da atividade econômica. Especificamente, houve uma extensão da legislação de isenção de folha de pagamento em alguns setores. No entanto, as medidas não foram suficientes para a retomada.

Mesmo que o setor de serviços já estivesse reagindo, com a normalização progressiva do trabalho presencial, das horas de trabalho e do pleno funcionamento das atividades terciárias, a indústria vinha de níveis de produção restritos. Várias atividades foram represadas. Houve um aumento nos deslocamentos, circulação em geral.

AGRICULTURA E PECUÁRIA

Este setor diminuiu 1,7% em 2022. As condições do mercado externo, como a Guerra da Ucrânia, contribuíram para alcançar esse valor no setor. Além disso, fenômenos climáticos causaram falhas parciais nas safras. A soja, a principal cultura, apresentou uma queda significativa na produção.

O professor Jefferson destacou os fatores relacionados ao aumento dos custos de produção, especialmente os fertilizantes, cuja parcela significativa vem do mercado estrangeiro: “Mais uma vez, devemos destacar que o setor depende do financiamento da produção e foi diretamente afetado pelo aumento das taxas de juros”.

Dessa forma, a maioria desses números foi resultado da tentativa de Bolsonaro de melhorar a situação da população em relação à economia, para trazer mais votos para si mesmo em ano eleitoral. As medidas tomadas, visando beneficiá-lo na eleição, não ajudaram o Brasil a crescer em uma disposição de longo prazo. Embora tenha havido crescimento no consumo, ainda havia números muito altos de desemprego, por exemplo. E isso leva à falta de políticas para realmente ajudar a população.

 

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