SINCE 2024: GT3 teve debates sobre desenvolvimento regional

  • 18 de outubro de 2024
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Representantes das cinco regiões do Brasil abordaram temas locais e nacionais envolvendo produtividade, desenvolvimento territorial, poupanças e potencialidades locais

O Grupo de Trabalho nº 3 do SINCE teve como tema o debate sobre a conjuntura econômica, social e política do Brasil – e, nesta edição, as discussões estiveram relacionadas ao desenvolvimento regional. O grupo contou com palestras de representantes das cinco regiões, sendo eles os economistas Haroldo da Silva e Wallace Marcelino (Sudeste), Kerssia Preda Kamenach (Centro-Oeste), Kleber Mourão (Norte), Lauro Chaves Neto (Nordeste) e Carlos Eduardo Pitz (Sul).

Sudeste

Haroldo da Silva falou sorbe alguns dos principais desafios globais (os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável) e brasileiros e questionou em que os economistas poderiam contribuir para ajudar a endereçá-los. “Meu tema mais importante hoje é a produtividade”, iniciou o economista, citando uma frase de Paul Krugman (“A produtividade não é tudo na economia, mas, a longo prazo, é quase tudo”). “O crescimento da produtividade, ou a capacidade de produzir mais com menos, é tudo o que realmente importa para o aumento dos padrões de vida. E se os outros melhorarem, mas nós melhorarmos menos, ficarmos para trás”.

Haroldo apresentou alguns números: o volume de pesquisa e desenvolvimento no PIB coreano é de 4,56%, contra 1,2% no Brasil; a manufatura corresponde a 27% do PIB chinês contra 10% no Brasil. “O IPEA fez um trabalho sobre a produtividade no Brasil. De 1947 a 1980, nossa produtividade per capita cresceu 4,5%. De 1981 a 2021, 0,8%. Estamos patinando”, concluiu.

O economista Wallace Marcelino Pereira apresentou gráficos com informações da região Sudeste. “De acordo com a teoria da mudança estrutural, as economias avançam da agricultura para a indústria, e na desindustrialização ocorre o crescimento do setor de serviços – são serviços modernos, que capturam o conhecimento da indústria de transformação e conseguem agregar valor”, explica Wallace. “O Sudeste, pelo seu passado industrial, consegue atrair este setor de serviços moderno. Mas eles se concentram em São Paulo”, citou, demonstrando preocupação também com a taxa de informalidade no Brasil (39 a 40% nos últimos anos, enquanto no Nordeste é um pouco menor: 33 a 34%).

O economista também apresentou dados sobre as emissões de gases de efeito estufa. “Em São Paulo e Minas Gerais os setores que mais emitem são os processos industriais, no Rio de Janeiro são os resíduos e no Espírito Santo a agropecuária”, comentou. Wallace abordou também a questão fiscal, que vem sendo muito debatida. “Na condição de país periférico, temos um grande problema que demandará uma massa de recursos muito significativa. Não podemos pensar na questão de ajuste fiscal – claro que é importante controlar as contas, mas também temos que reestruturar a economia, ou então ficaremos para trás, e nós não podemos ficar para trás”.

Centro-Oeste

Kerssia Preda Kamenach falou sobre a economia da região Centro-Oeste e, de forma mais específica, de seu estado: Goiás. “As pessoas estavam em busca de ouro nos séculos 17 e 18. O ouro encontrado ali era de aluvião, um processo ainda mais complicado”, comentou. “As outras atividades econômicas vieram depois. A agropecuária originalmente era voltada para o consumo local, porque havia dificuldade de escoar esta produção. Com a chegada da ferrovia, esta posição melhorou. A modernização da nossa infraestrutura ocorreu na década de 1970”.

Kerssia mencionou que quando as pessoas falam da região Centro-Oeste, imediatamente pensam no agronegócio, e trouxe uma série de números da região que a contextualizam dentro do cenário econômico nacional. Também falou sobre os arranjos produtivos locais (APLs) citando que o Centro-Oeste tem 25, e 22 deles estão em Goiás. Como desafios enfrentados pela região, apontou que existe crédito, mas que nem sempre ele é liberado: “O empresário precisa dar uma garantia real de 130% e nem sempre ele consegue pleitear este recurso. Além disso, as taxas do FCO rural são mais baixas que as do FCO empresarial, o que estimula as atividades agropecuárias, concentrando a economia”, explanou. “Goiás tem incentivos fiscais mas não tem energia que consiga suportar a implantação de mais indústrias; além disso, várias rodovias estão em más condições e falta mão de obra qualificada”.

Norte

Kleber Mourão afirmou que a região Norte do Brasil é pouco conhecida e pouco valorizada. “Temos uma grande área do território nacional, com sete estados e 450 municípios – o estado de São Paulo, sozinho, tem mais”, observou. “Apenas um município da região Norte está entre os 100 melhores IDHs do País (Palmas, no Tocantins), mas 37 encontram-se entre os 100 piores”.

Ele caracterizou as economias de cada estado e as principais atividades da região, concluindo que a estrutura produtiva é de baixa complexidade – e tem os quatro estados com PIB mais baixo no Brasil. “O Norte é uma região produtora e exportadora de bens primários e semielaborados porque tem deficiências em infraestrutura, conflitos agrários, insegurança jurídica e reduzida presença do poder do Estado”, diagnosticou, citando também a isenção de ICMS trazida pela Lei Kandir. “Temos algumas potencialidades: uma das maiores biodiversidades do planeta, com uma infinidade de recursos naturais, proximidade da Europa, África, América do Norte e, pelo canal do Panamá, Ásia; e carregamos a marca Amazônia, que vende”. Como soluções, falou da importância do planejamento e da presença do poder público.

Nordeste

O conselheiro federal Lauro Chaves Neto falou sobre o desenvolvimento territorial e mencionou os desafios da região Nordeste. “Território não é algo que cai do céu. Você desenha um território com algumas características. Se falarmos de Nordeste, o desenho é um; mas há outro desenho incluindo o norte de Minas Gerais e do Espírito Santo”, comentou. Ele caracterizou a diferença entre desenvolvimento endógeno e exógeno e falou sobre o porto de Pecém. “Há 20 anos, era uma colônia de pescadores. O desenvolvimento endógeno seria desenvolver a colônia. Mas aquele era o lugar do Ceará com melhores condições para ter um porto, o que transformou o território. Hoje temos uma siderúrgica da Arcelor Mittal. O desenvolvimento exógeno causa mais transformações, mas é o endógeno que traz o desenvolvimento social, a redução das desigualdades e a inclusão das populações originárias”.

Calculando grosseiramente, quase um terço do PIB do nordeste está no estado da Bahia; outro terço está no Ceará e Pernambuco; e o terceiro terço está nos demais estados. O crescimento dos últimos anos esteve alinhado com o crescimento Brasileiro (mas com um resultado bastante melhor em 2022). “Desenvolvimento regional não é apenas correr, mas correr mais rápido do que os outros, para recuperar o atraso”, comentou. Ele também abordou os números do PIB da região (14% do Brasil, com 27% da população, o que dá pouco mais da metade do PIB per capita nacional). “Não é problema do governo atual, nem do anterior, nem do que veio antes. Estes números são assim desde que são medidos. A Sudene fez muitos esforços, mas a situação não mudou. Hoje o Nordeste tem uma vantagem competitiva que nunca existiu: os aeroportos de Fortaleza e Recife se tornam hubs internacionais, a cadeia do hidrogênio verde tem muito potencial no estado do Ceará”.

Sul

O economista Carlos Eduardo Pitz abordou a questão das vulnerabilidades regionais e a poupança. “As enchentes no Rio Grande do Sul foram uma externalidade que traz o debate sobre as reservas financeiras das famílias brasileiras. Como vamos recuperar o estado se a maioria das famílias não tem poupanças para viver por três meses”, questionou. “No final do dia, a poupança é igual ao investimento, dizia Keynes. No Brasil, essa conta não fecha. Não temos investimento porque não temos poupança. As garantias exigidas de 130% para tomada de crédito são assim porque há demanda por crédito e não há dinheiro disponível”.

No plano macroeconômico, Pitz apontou que a China tem 40% de sua renda bruta em poupanças, enquanto no Brasil a taxa está em torno de 15 a 16%, quando a necessidade do país é de 25%. Ele também citou que uma parte importante da poupança das famílias estava em imóveis. “Na teoria, investimento em imóvel não tem risco. Mas vem uma enchente e leva 45% do patrimônio das famílias”, pontuou. “Há 22% em fundos de investimento. Isso foi muito útil, mas não está nas mãos dos que sofreram com a enchente. A poupança destas pessoas foi perdida”. Por último, ele abordou o comportamento do brasileiro, colocando uma parte considerável da renda em consumo e pouco em poupança e investimento.

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