28º SINCE: Cofecon realiza Fórum da Mulher Economista e Diversidade
Ana Cláudia Arruda, Janine Alves e Bianca Rodrigues abordaram diversos aspectos da desigualdade de gênero, passando por salários, escolhas de carreira e reposicionamento
O Cofecon realizou na tarde de 18 de outubro o Fórum da Mulher Economista e Diversidade, espaço de debates que tem se tornado cada vez mais tradicional nos grandes eventos do Sistema Cofecon/Corecons. O evento contou com a participação das economistas Tania Cristina Teixeira (que coordenou os debates), Eliane Martins, Izabel Ribeiro (comentaristas) e Valquíria Assis.
Valquíria fez a leitura da carta do 2º Fórum Nacional da Mulher Economista e Diversidade, realizado em Belo Horizonte no mês de setembro. O documento reflete os principais debates promovidos naquele evento, bem como um detalhamento das mesas de trabalho – e que, na ocasião, fazia um convite à participação de todos no SINCE.
Diferença de pensamentos
A conselheira federal Ana Claudia Arruda mencionou autoras que estão estudando movimentos contemporâneos de exclusão e gênero, como Silvia Federici, Saskia Sassen e Hélène Périvier – esta última, uma economista francesa. “Estas autoras propõem uma nova forma de compreender a brutalidade das exclusões promovidas pelo capitalismo”, comentou Arruda. “A resposta às crises globais tem sido brutal e intensificadora de processos de marginalização e exclusão, recaindo fundamentalmente sobre grupos de resistência: indígenas e mulheres”.
A economista citou também que as mulheres são as grandes responsáveis pela reprodução das famílias e das comunidades. “Elas cuidam dos doentes, dos filhos, das crianças de outras mulheres, envolvem-se com a agricultura de subsistência para cozinhar, cuidam da saúde, da higiene, da qualidade da água. São as grandes administradoras da escassez e da pobreza”, argumentou. Por fim, ela mencionou que a economia é a ciência social com o menor número de mulheres e apontou algumas diferenças de pensamento: “Os homens preferem menos intervenção governamental em questões como proteção ao emprego e austeridade; as mulheres são mais propensas a apoiar a regulação ambiental e a promoção de energias renováveis, e a considerar excessivos os gastos militares”.
Desigualdade de gênero começa na infância
A economista Janine Alves falou sobre as diferenças de papéis que meninos e meninas trazem desde a infância. “Elas são incentivadas a adotar papéis de cuidado, que envolvem empatia, atenção às necessidades dos outros e responsabilidades relacionadas ao bem-estar. Já eles são estimulados a assumir papéis mais técnicos e assertivos, que exigem habilidades práticas, autoconfiança, liderança e abordagem direta e proativa”, diferenciou Janine. “Estes papéis assertivos podem se manifestar em carreiras ou habilidades que demandam mais confiança, liderança e habilidades técnicas. Meninas são desencorajadas a seguir carreira em áreas como ciência e tecnologia, limitando suas futuras escolhas”.
Janine também abordou algumas facetas desta desigualdade, como aspectos de raça e classe social, e também mostrou números sobre diferenças de salário, tanto em atividades mais qualificadas quanto menos qualificadas, e verificou que as mulheres ganham mais que os homens nas forças armadas. “A mensagem que se transmite para elas é: não se qualifiquem”, afirmou, em relação à diferença de salários em cargos de liderança. Por fim, mencionou a participação feminina nas chamadas carreiras do futuro.
Uma mudança de carreira
A economista Bianca Rodrigues contou sua história profissional. Ela tinha uma atuação de sucesso no setor público do estado de Rondônia, tendo chegado a vice-presidente da Junta Comercial do estado, mas mudou de área. “É possível começar de novo. Mudei de carreira, de setor, de atividade, tudo. Eu tinha uma ânsia por descobrir qual era o meu propósito e o meu lugar no mundo – aquilo que eu gostaria de fazer se não precisasse ganhar dinheiro”, comentou. “Um dia o governador me disse: Bianca, precisamos identificar qual é o próximo ciclo de desenvolvimento do estado de Rondônia que não seja a soja. Rondônia já passou pelos ciclos da borracha, do garimpo, da madeira, do boi, do café. Identificamos o tambaqui como potencial econômico do estado”.
Ao visitar Santa Catarina, soube que o estado era o maior produtor de pescado do Brasil. E ela começou a trabalhar para abrir mercados para o peixe rondoniense. “Para começar de novo é preciso muita humildade, mente aberta para o novo, adaptação, capacitação, comunicação e persistência”, apontou. “Eu saí de uma área muito masculina, finanças governamentais, para outra muito masculina, de vendas e pesca. Vence quem tem menos medo. Antes eu gostava do que fazia. Hoje eu faço o que gosto”.
Confira as fotos do evento:
Confira a transmissão do Fórum da Mulher Economista e Diversidade: