Artigo – A luta das mulheres
Ontem (8 de março) ocorreu em todo o planeta o Dia Internacional (de luta) da Mulher. Sim, de luta, pois os motivos para reafirmar a luta pelos direitos da mulher superam em muito os motivos para mera comemoração. Neste artigo, deixarei momentaneamente de lado os aspectos econômicos relativos à questão de gênero, que são muitos – menor remuneração para trabalho similar; jornada de trabalho doméstica não remunerada; baixo acesso aos postos de chefia em empresas privadas e públicas; sub-representação parlamentar, etc –, e abordarei outra dimensão da discriminação às mulheres: a comportamental.
Certamente as conquistas femininas referentes ao tratamento isonômico em relação aos homens foram muitas nas últimas décadas. Basta lembrar que hoje o eleitorado feminino – majoritário – decide uma eleição, e, há menos de 100 anos, as mulheres eram impedidas de ir às urnas.
Mas, não obstante os avanços, o fato é que em plena segunda década do século XXI, a cada dia milhões de mulheres são desrespeitadas, assediadas e constrangidas em seus locais de trabalho, de estudo e de moradia. Diariamente, milhares sofrem violências, estupros ou são assassinadas por maridos ciumentos.
É surpreendente que a sociedade cultue traços machistas que deveriam ter desaparecido há tempos. No Brasil, por exemplo, o deputado Jair Bolsonaro, que faz piadas com mulheres vítimas de estupro, é o 2º colocado em pesquisas de intenção de voto para a Presidência da República. Já na Itália, Berlusconi, condenado por relações sexuais com uma menor de idade, é o líder de uma coligação vitoriosa em recente disputa eleitoral.
Infelizmente nossas sociedades machistas admitem com naturalidade a presença de pessoas com tais traços de caráter em postos dirigentes. A origem do problema está na condição imposta à mulher na sociedade capitalista, na redução de seu papel à mera reprodutora da força de trabalho e na mercantilização de seu corpo, nas mais diversas dimensões.
Portanto, força às mulheres por sua luta pela dignidade.
Júlio Miragaya, conselheiro federal do Cofecon, foi presidente da autarquia em 2016/17
Artigo publicado na edição de 09/03/2018 do Jornal de Brasília.