Artigo – Sinuca de bico
Não têm sido nada animadores os últimos resultados sobre o desempenho da economia brasileira. A previsão é de que o crescimento do PIB no primeiro trimestre de 2018 varie entre parcos 0,3% e 0,4% sobre o último trimestre de 2017. O fraco resultado já comprometeu o desempenho em 2018 e as consultorias já revisam sua projeção de crescimento entre 3,0% e 4,0% para algo próximo a 2,5%.
O curioso é a surpresa com os números que se apresentam, pois apenas refletem a implementação de uma política econômica contracionista, pautada num brutal corte dos gastos públicos e na falta de estímulos ao consumo, ou seja, à demanda agregada. A retomada do emprego, por exemplo, tem se dado em torno da geração de empregos informais, com remuneração mais baixa e grande vulnerabilidade da condição de trabalho, resultando em menor propensão ao consumo.
De outro lado, há uma grande desconfiança dos empresários em efetuar investimentos produtivos, seja pela baixa recuperação do consumo, seja pela elevada instabilidade política. É sabido que o mercado financeiro e os grandes empresários apostam na eleição de um candidato que mantenha a agenda de reformas pró-mercado – que significa retirada de direitos sociais, privatizações etc – e o drama tem sido a óbvia baixa aceitação de candidatos com esse perfil por parte dos eleitores.
As intenções de voto em Alckmin, Temer, Rodrigo Maia, Álvaro Dias e Henrique Meirelles, somadas, não chegam a 20% do eleitorado, praticamente a metade do contingente disposto a votar em Lula. Daí o desânimo que tomou conta da Bolsa e a repentina subida do dólar. O fato é que os agentes do mercado se meteram em uma sinuca de bico. A bem sucedida trama jurídico/empresarial de retirar Lula da corrida eleitoral não lhes dão a garantia de vitória em outubro. Serão, sem dúvida, cinco meses de patinadas no cenário econômico e de intenso nervosismo no mercado financeiro.
Júlio Miragaya, conselheiro do Conselheiro Federal de Economia, foi presidente da autarquia em 2016/17.
Artigo publicado na edição de 26/04/2018 do Jornal de Brasília.