Artigo – América Latina
Semana passada participei em Havana do III Congreso Internacional de Gestión Económica y Desarrollo, organizado pela Associação Nacional de Economistas e Contadores de Cuba – ANEC e pela Associação dos Economistas da América Latina e Caribe – AEALC. Durante todo o evento, os depoimentos de diversos especialistas versaram sobre a grave crise econômica que assola o continente – resultado da mais completa desordem que marca o sistema capitalista nesse início de século XXI – e que traz consequências dramáticas para a maioria dos 650 milhões de habitantes da região.
A emergência na América Latina de governos de traços neoliberais nos últimos dois anos, compreendendo os de Macri na Argentina, Temer no Brasil e Piñera no Chile, evidenciam que as respostas neoliberais para a crise econômica são absolutamente inadequadas, pois não apenas deixam de equacionar os impasses na economia, como agravam a já péssima situação social em seus países.
A crise dos combustíveis no Brasil, por exemplo, parece “fichinha” comparada ao aumento de até 450% que Macri promoveu nas tarifas de energia e gás na Argentina, que não resolveu o déficit fiscal – pelo contrário, esse foi agravado, levando o país a pedir novamente socorro ao FMI – como elevou o custo de vida entre a população mais pobre. Em relação ao Brasil, o crescimento prognosticado pelo mercado financeiro, de 4% do PIB em 2018, já caiu para 1,8% e não me surpreenderia se repetisse o 1% de 2017, o que, em termos per capita, equivale a crescimento zero. Não por acaso, a candidatura antiliberal de Lula lidera todas as pesquisas de intenção de voto.
O mesmo observamos no México, com a esperada vitória do candidato antiliberal Andrés Obrador nas eleições presidenciais de 1º de julho, assim como na Colômbia, com a ida pela primeira vez na história do país de um candidato de esquerda, Gustavo Petro, ao 2º turno das eleições presidenciais em 17 de junho. Definitivamente, parece que a propalada virada à direita terá vida curta na região.
Júlio Miragaya, vice-presidente da Associação dos Economistas da América Latina e Caribe