Artigo – Argentina amanhã?

Após licença de pouco mais de dois meses para uma viver uma experiência eleitoral, reassumo a coluna no JBr, agradecendo de forma carinhosa a substituição pelo brilhante economista e amigo Roberto Piscitelli. Aproveito a oportunidade para prestar meus pêsames à família de outro amigo e destacado economista brasiliense, Mário Sérgio Sallorenzo, que nos deixou há uma semana.

Ao retornar à coluna, manifesto minha enorme preocupação com a situação da economia brasileira, atolada num prolongado ciclo de estagnação, sem perspectivas de melhorias futuras, ou pior, se confirmado o quadro eleitoral desenhado no primeiro turno e adotado o programa neoliberal de maior retração dos investimentos públicos, privatizações e retirada de direitos sociais, caminharemos para o aprofundamento da crise, em três dimensões: econômica, social e política.

Sallorenzo concordaria e Piscitelli concordará que, caso isso ocorra, caminharemos para repetir o que ocorre hoje na Argentina, onde Macri, após assumir o governo no final de 2015, implementou uma agenda radicalmente liberal, levando a economia argentina ao “fundo do poço” e, consequentemente, ao Fundo Monetário Internacional (FMI).

Após queda do PIB de -1,8% em seu primeiro ano de governo (2016), a economia argentina deu um suspiro em 2017 (crescimento de 2,5%) em decorrência de uma breve recuperação dos preços das commodities agrícolas, mas voltou a cair em 2018 (vai fechar em -2,6%) e cairá novamente em 2019, em – 1,6%, segundo o FMI, devendo perfazer uma queda do PIB local de -3,5% em seus quatro anos de governo. Deve-se destacar que nos treze anos precedentes, quando esteve presidida por Nestor e Cristina Kirchner, a economia argentina cresceu 5,0% ao ano.

Em consequência da política econômica neoliberal, o contingente abaixo da linha de pobreza aumentou de 29% em 2015 para 35% em 2018 e já são 13 milhões de pobres e 2,4 milhões de indigentes no país vizinho. Ainda dá para trilhar outro caminho por aqui.

Júlio Miragaya é vice-presidente da Associação dos Economistas da América Latina e do Caribe (AEALC).

  • Artigo publicado no Jornal de Brasília em 11/10/2018.
Share this Post