Confira o discurso do presidente do Cofecon na audiência pública sobre a proposta de reforma da Previdência

O presidente do Conselho Federal de Economia, Wellington Leonardo da Silva, participou nesta terça-feira, 26 de março, de audiência pública na sede da Ordem dos Advogados do Brasil – seccional São Paulo (OAB-SP). O vídeo com todas as exposições dos participantes está disponível aqui.

Confira, abaixo, o discurso do presidente do Cofecon durante o evento.

“O Conselho Federal de Economia vem se posicionando, há muito tempo, de maneira crítica quanto às propostas de reforma da Previdência. Foi assim com as apresentadas antes de Temer, com a que o Temer tentou implementar, e assim em relação a esta (Governo Bolsonaro). Uma fala apresentada no telão (do evento) me chamou a atenção porque é uma discussão que temos também no Conselho Federal de Economia. Ou a gente compreende que por trás de tudo isso há política ou não iremos muito longe.

A quem interessa a reforma da Previdência? Aos pensionistas do INSS que se aposentam com um salário-mínimo, ou no máximo dois, a maioria? Aos privilegiados, que conseguem se aposentar com menos de R$ 5 mil porque nunca chegam ao teto? Ou ao sistema financeiro?

Eu respondo: ao sistema financeiro, que é quem vai vender plano de complementação de aposentadoria para todos nós. Bem-vindos a um país cruel, a um país onde o salário-mínimo é de R$ 988 e por avaliações técnicas dos economistas do DIEESE deveria ser de R$ 4 mil. Um país onde se propõe que o trabalhador rural que não contribuiu para a Previdência Social, não por sua responsabilidade mas porque não havia fiscalização, seus patrões sonegavam e nem assinavam carteira de trabalho, vão receber R$ 400. Estamos caminhando na trilha do Chile, onde hoje a grande maioria dos aposentados pelo sistema de capitalização recebem menos da metade do salário-mínimo chileno, que corresponde hoje a R$ 1.200, ou seja, ganham entre R$ 500 e R$ 600.

Bem-vindos a um país onde a privatização dos planos de saúde não permitirá que alguém que ganhe R$ 1.200, que é a maioria da população brasileira, sequer tenha um plano de saúde. Bem-vindos à modernidade.

Entre os cem maiores devedores do INSS, além do Estado com suas fugas e rapinagens, nós temos por exemplo o Banco Santander que deve a bagatela de R$ 269.793.531,72. Nós temos, por exemplo, a viação Itapemirim, com cerca de R$ 343 milhões; o banco Bradesco, com R$ 674 milhões. Nós temos a Varig, com R$ 4 bilhões. Alguém diria que a Varig quebrou, mas alguém herdou a parte que tinha de capital, de imóvel, de estrutura, de aviões, de turbinas, e só ganhou? E a previdência social é que vai ficar no prejuízo?

Vamos fazer a reforma, vamos sim! Vamos começar cobrando de quem deve, vamos fazer auditoria para saber onde estão parte dos recursos da Previdência que não estão lá e não há explicação para onde foram. Vamos fazer Reforma da Previdência, como disse aqui o professor Pardal, depois da Reforma Tributária. Que se tribute rentistas, os bancos, porque hoje é fácil, se ganha mais de R$ 5 mil paga 27,5%. E os rendimentos das aplicações financeiras, sabe quanto paga? Zero. Assim, todo mundo quer brincar.

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