Artigo – À beira do precipício
O dia 28 de fevereiro de 2016 marca os 30 anos do Plano Cruzado, ocasião em que manteve-se o comum padrão de cortar três zeros da moeda anterior, o Cruzeiro (Cr$), criando o Cruzado (Cz$). Foi implantado um congelamento de preços e serviços. Foram também congelados os salários e câmbio. Os sábios, na ocasião em que criaram o plano, acreditaram que a economia havia sido desindexada e os efeitos inflacionários futuros, embutidos nos preços das dívidas, haviam sido zerados, portanto deveriam sofrer redução. Foi instituída uma tabela de conversão, que imediatamente foi chamada de “Tablita”. Afinal o Plano Cruzado era uma cópia do Plano Austral da Argentina, onde lá implantaram a “Tablita”.
O fracasso deste plano veio pelos efeitos do congelamento vigente e pelo desabastecimento que veio a seguir. Surgiu um mercado negro de alimentos, a tal ponto que nas cidades, para comprar um quilo de carne, era necessário buscar neste mercado clandestino.
Mas não foi esta a principal origem do fracasso. Faltaram por parte do governo medidas para controlar os gastos públicos. O congelamento do câmbio fez com que as Reservas Internacionais tivessem drástica diminuição. Como resultado, em fevereiro de 1987 o governo decretou uma Moratória das dívidas internacionais.
Por fim, os juros reais estabelecidos eram negativos, desestimulando a poupança e pressionando o consumo.
Este plano só vigorou até permitir que o PMDB, partido do presidente Sarney, elegesse em 15 de novembro, 22 governadores e o PFL, da base do governo, elegesse, 1. Foram eleitos pelo PMDB quase dois terços da Câmara dos deputados, do Senado e das Assembléias Legislativas estaduais.
Encerradas as eleições, no dia 21 de novembro o governo lançou o Plano Cruzado II.
Destacam-se entre os seus principais pontos a liberação dos preços dos produtos e serviços e a reindexação da economia.
Até pouco tempo, era considerado como um dos maiores estelionatos eleitorais praticado neste país, mas dizem ter sido superado pela eleição presidencial de 2014.
Depois o Brasil continuou sendo cobaia e laboratório de experiências de magos da economia. Veio a sofrer com as consequências do Plano Bresser, implantado em 16 de julho de 1987 – plano que nasceu morto – seguido de outros fracassos, como o Plano Verão em 16 de janeiro de 1989 e por fim o mais famigerado de todos, o Plano Collor, em 16 de março de 1990, conhecido por ter confiscado a poupança dos brasileiros.
Em apenas quatro anos o Brasil conviveu com o pesadelo de cinco planos, que não deram em nada. Muitos, mas muitos mesmo perderam tudo e os que puderam recomeçar ainda esperam que a justiça, pelo STF, devolva o que lhes foi tirado, pelo fato que o governo não concedeu os juros estabelecidos por contratos em seus investimentos.
Apenas o Plano Real foi o que não rasgou contratos, muito pelo contrário, permitiu um período de mais de um ano para que todos se adaptassem as mudanças que viriam a partir de 1º de julho de 1994.
Vale assinalar que desde o início do mandato da atual presidente voltaram-se a cometer os mesmos erros do Plano Cruzado, que são a falta de medidas para controlar os gastos públicos.
Não passa pelos cabeça dos próceres da economia que estão no governo e da principal mandatária seguirem as diretrizes implantadas a partir de julho de 1994 pelo Plano Real. Plano que, pelos atuais detentores do poder, é considerado herança maldita. Por não seguirem as diretrizes estabelecidas desde suas bases é que estamos vivendo, pelo terceiro ano seguido, uma recessão com desemprego e inflação se acelerando, e a arrecadação em queda. Resultado: Estados e Municípios à beira da falência e redução drástica no investimentos.
Com tudo isso ocorrendo no dia-a-dia, há proponentes visando saquear as Reservas Internacionais que estão sob gestão do Banco Central, último bastião antes de um default.
Décio Batista Pizzato – Economista