Artigo – A Economia se aproxima da Psicologia

Muitos estudiosos da área de economia e finanças ainda acreditam que a melhor maneira de descrever o comportamento econômico é evitar a psicologia e, em vez disso, utilizar algumas premissas de otimização e de racionalidade. Por isso, a maior parte dos modelos econômicos ainda são formulados supondo que as pessoas decidem de forma racional, ponderada e com uso de uma capacidade ilimitada de processar informações.

Esse tipo de pensamento não traduz adequadamente a realidade e acaba distorcendo algumas conclusões de teorias econômicas. O Prêmio Nobel de Economia de 2017 foi concedido a Richard Thaler justamente por esse economista ajudar a integrar a economia com a psicologia. A chamada “Economia Comportamental” se destaca por nos ajudar entender os efeitos de sentimentos e das emoções nas decisões, permitindo avanços na ciência.

Dentre diversas pesquisas, o ganhador do Nobel demonstrou como aspectos comportamentais interferem em hábitos de poupar para aposentar. Os estudos trazem evidências da importância de instrumentos de adesão automática de poupança. O programa “Poupe Mais Amanhã”, implantado nos EUA e no Reino Unido, é exemplo de sucesso por estimular funcionários de empresas a se comprometerem com aumentos gradativos de poupança, na medida em que recebem aumentos salariais.

As Finanças Comportamentais também têm ajudado a revelar os motivos pelos quais as pessoas decidem sobre determinado investimento em detrimento de outro, por exemplo. Com isso, gestores financeiros dispõem de novas ferramentas para prever o comportamento futuro de ações e, assim, ampliar a rentabilidade de suas carteiras.

A aproximação da Economia Comportamental com o Marketing vem permitindo entender o efeito de marcas nas compras dos consumidores. Tem ajudado entender os motivos pelos quais as pessoas tomam decisões impulsivas ou prejudiciais, ao comprar roupas ou produtos que não usarão. Os governos também têm utilizado dos estudos para aprimorar as políticas públicas.

É lamentável que esse campo de estudos sofra resistências pela corrente tradicional da economia, dado que somente 6% dos ganhadores do Nobel sejam da área Comportamental. Ou pelo fato de a disciplina ainda não integrar a grade curricular dos cursos de graduação em economia no Brasil.

Por isso, a premiação do Nobel deste ano é tão importante: por estimular a nova geração de economistas a pensar “fora da caixa” e, com isso, ajudar no avanço das Ciências Econômicas.

Eduardo Araujo – Vice-presidente do Conselho Regional de Economia do ES (Corecon-ES)

 

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