Artigo – Andando para trás?
Em tempos de economia em ritmo de ioiô, apenas o setor agrícola traz resultados consistentes. O Brasil vai colher safra recorde este ano: 233 milhões de toneladas de grãos. Também a produção de cana-de-açúcar será recorde, assim como a produção de carnes e produtos florestais. Segundo o Ministério da Agricultura, o Valor Bruto da Produção Agropecuária (VBP) alcançará R$ 545 bilhões. Isso é bom ou ruim para o Brasil? As duas coisas.
É bom, pois são os excedentes da produção agrícola que têm garantido o superávit na balança comercial brasileira, mas é bom, sobretudo, para os grandes produtores rurais, que contam com vultosos subsídios estatais em seus financiamentos e isenções diversas nas exportações (inclusive previdenciárias), e para as tradings agrícolas, ambos embolsando lucros fabulosos.
Prioridade para o agronegócio, desprezo para a indústria. Em artigo recente, Benjamin Steinbruch, presidente da CSN e uma das poucas vozes altivas da decadente burguesia industrial brasileira, analisa o processo de desindustrialização em curso no Brasil, com queda do PIB industrial de 17% nos últimos 3 anos, perda de centenas de milhares de empregos, forte queda nas exportações de manufaturados e desmantelamento das indústrias naval e da cadeia do petróleo e gás. Critica o ideário neoliberal, para quem o mercado regula tudo, jogando a indústria nacional à competição internacional em condições absolutamente desfavoráveis em termos de custo do capital (taxa de juros), câmbio, carga tributária e logística.
Por essas e outras, para ampliarmos nossa produção agrícola, importamos 80% dos fertilizantes. Estaríamos andando para trás, exportando commodities agrícolas e minerais e importando bens industriais?
Por fim, em homenagem à semana da Agrobrasília, cabe registrar que em 2017 o Centro-Oeste assumirá, pela primeira vez, a liderança no VBP agropecuário, com R$ 158,3 bilhões, superando as regiões Sul (R$ 143,9 bi) e Sudeste (R$ 139,7 bi).
Júlio Miragaya, presidente do Conselho Federal de Economia