Artigo – A noite do Brasil

Em 1968 o Brasil vivia uma “noite de horror” sob a ditadura militar, período imortalizado na música “O Bêbado e a Equilibrista” de João Bosco e Aldir Blanc, na voz de Elis Regina: “Fazia irreverências mil pra noite do Brasil. Meu Brasil! Que sonha com a volta do irmão do Henfil, com tanta gente que partiu, num rabo de foguete. Chora, a nossa Pátria mãe gentil, choram Marias e Clarisses, no solo do Brasil. Mas sei que uma dor assim pungente, não há de ser inutilmente, a esperança”.

Passados 50 anos, a noite volta a nos aturdir. Não bastasse uma profunda crise econômica que persiste em assolar nosso país e um conjunto de medidas antipopulares, com os graves impactos sociais decorrentes, vivenciamos um conturbado momento político, com abusos judiciais, repressão às manifestações públicas, assassinatos de lideranças políticas e sociais, ameaças de setores militares e ações de natureza fascista.

O fato é que a melhora do quadro econômico é uma ficção, melhor dizendo, acontece só para os mais ricos. Para o povo estão reservados desemprego e precarização do trabalho, perda de direitos sociais e piora dos serviços públicos. Nesse quadro, o que se projeta para outubro é a derrota dos candidatos afinados com as reformas pró-mercado e a vitória de Lula. Para impedir tal resultado, solapa-se a vontade popular, forjando-se um julgamento permeado de ilegalidades, denunciado até mesmo por juristas liberais, caso similar aos de Mandela, Trotsky e Gandhi.

Neste cenário de crise, em Brasília, a ausência de uma estratégia de desenvolvimento econômico pelo GDF levou a um péssimo resultado no mercado de trabalho. A PED/DF de fevereiro, da Codeplan, revelou que havia 1.325 mil pessoas ocupadas em Brasília, exatamente o mesmo número existente em dezembro de 2014, ou seja, passados 3 anos e 2 meses do atual governo, enquanto a geração de emprego no DF foi zero, o contingente desempregado aumentou 80%, de 163 mil para 294 mil. Noite também em Brasília.

 

Júlio Miragaya, conselheiro do Conselheiro Federal de Economia, foi presidente da autarquia em 2016/17.

Artigo publicado na edição de 12/04/2018 do Jornal de Brasília.

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