Artigo – A persistente desigualdade racial do Brasil

Por volta do século VII, quando mercadores islâmicos no deserto do Saara compravam mão de obra africana no sul do continente, iniciou uma onda de intolerância contra os negros no mundo. No Brasil, a história do negro começou em torno de 1530, quando os primeiros navios trouxeram africanos para a terra recém-descoberta. Pesquisas apontam que entre 3,5 e 5,5 milhões de negros foram trazidos de Gana, Angola, Moçambique e outros, em condições sub-humanas sendo vendidos e tratados como animais.

A história da “Pátria Mãe-Gentil” mostra que aqueles povos foram excluídos, torturados e, boa parte, mortos. Mais de 100 anos após da Lei Áurea, ruas, escolas, empresas e demais organizações mostram que a desigualdade racial no Brasil está cada vez mais explicita e ainda há um longo caminho a ser percorrido para reverter essa situação.

Segundo análise das informações da Pesquisa de Emprego e Desemprego, realizada pelo DIEESE, as ações governamentais executadas ao longo das últimas décadas não foram suficientes para promover a equidade de valoração do trabalho exercido pelos negros em relação aos não-negros. Enquanto a taxa de desemprego entre a população negra alcançou 14,9%, em São Paulo, em 2015, entre o grupo de não-negros ficou em 12%.

Com relação ao rendimento médio por hora trabalhada, há uma real distância entre os dois grupos. Em todas as regiões pesquisadas a população negra aufere os menores rendimentos relativos do que o grupo de não-negros. Em São Paulo houve um aumento dessa distância, enquanto aqueles receberam, em junho de 2016, R$ 9,39 por hora trabalhada, esses ganharam R$ 13,88. Diferença de 32,3%.

Em quase todas as regiões, exceto Salvador, a indústria de transformação perde importância na estrutura ocupacional de negros e não-negros, enquanto os serviços aumentam a sua participação. Mas vale lembrar que a maior proporção de homens negros está na construção civil e de mulheres negras nos serviços domésticos.

Diante dessa extrema disparidade, torna-se imperativo, por parte dos órgãos governamentais, iniciar um grande debate sobre a questão racial no País e propor políticas para combater o problema. Um dos instrumentos utilizados para amenizar essa desigualdade foi a criação das cotas em instituições públicas de ensino. Uma política afirmativa amparada na legislação em vigor, mas alguns críticos afirmavam que o modelo rebaixaria o nível educacional e degradaria as universidades públicas. Também previam que os cotistas jamais acompanhariam o ritmo dos colegas “mais iluminados” e isso resultaria na desistência dos beneficiados pelos programas de inclusão.

Todavia, uma pesquisa realizada na Unicamp demonstrou que, em 33 dos 64 cursos analisados, os alunos que ingressaram na universidade por meio de um sistema semelhante ao de cotas tiveram desempenho melhor do que os não beneficiados. No curso de Engenharia da Computação, os estudantes cotistas tiraram, no 3º semestre, média de 6,8, contra 6,1 dos demais. Em Física, o primeiro grupo cravou 5,4 pontos, mais dos que os 4,1 dos outros (diferença de 32%).

Neste Dia Nacional da Consciência Negra, que possamos nos mobilizar e lutar, dentro dos princípios democráticos e da legalidade, para que as futuras gerações de negros vivam num país mais igualitário e com muitas oportunidades.

 

Ricardo Paixão – Conselheiro do Conselho Regional de Economia do ES (Corecon-ES)

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