Artigo – Ainda a desigualdade

Mais um estudo, desta vez elaborado pelos economistas Adriano Pitoli e Camila Saito, da Tendências Consultoria, mostra a real dimensão do problema da desigualdade social no Brasil e revela que a tímida recuperação em curso na economia brasileira no 1º semestre de 2017 vem ocorrendo com a marca do aumento da concentração da renda.

O Estudo divide a sociedade brasileira em quatro “classes de rendimento” (classe A, com famílias com rendimento acima de R$ 17.216,00; classe B, de R$ 5.552,00 a R$ 17.286,00; classe C, de R$ 2.302,00 a R$ 5.552,00; e Classe D/E, abaixo de R$ 2.302,00) e revela que apenas 1,48% das famílias brasileiras pertencentes à Classe A se apropriam de 16,78% da renda total, em contraste com os 65,21% das famílias que integram a Classe D/E e se apropriam de apenas 19,82% da renda nacional.

No primeiro semestre de 2017, em comparação com o mesmo período de 2016, o rendimento médio das famílias da Classe A cresceu 5,8% em termos reais, para R$ 30.156,00. Já na Classe B (9,18% das famílias e 31,08% da renda nacional), o rendimento cresceu pouco, apenas 0,6%. Na Classe C (24,14% das famílias e 32,32% da renda nacional), houve pequeno decréscimo do rendimento (-0,5%). Por fim, na classe D/E, o rendimento médio caiu 4,3%, para R$ 805,00.

Os dados do estudo são condizentes com o que vem ocorrendo no mercado de trabalho brasileiro nos últimos meses. No trimestre maio/julho foram gerados 968 mil ocupações no setor privado, sendo 802 mil (83%) do chamado trabalho precário (assalariados sem carteira assinada, conta própria e doméstico). Os novos empregos de assalariados com carteira foram apenas 54 mil (5,5%) e novas ocupações como empregadores, 112 mil (11,5%). Em suma, a chamada modernização das relações trabalhistas não passa da velha e batida precarização do mercado de trabalho, mecanismo de agravamento da desigualdade social.

 

Júlio Miragaya, Presidente do Conselho Federal de Economia (COFECON).

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