Artigo – Câmbio, carne e China

  • 2 de janeiro de 2020
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Os movimentos da taxa de câmbio no Brasil têm causado um alvoroço econômico tanto no âmbito interno como externo.

Taxa de câmbio fora de lugar, antes de qualquer causa, tem a ver com política cambial flexível adotada no país desde 1999. Câmbio flexível é aquele onde a taxa de câmbio é regida pelas forças de mercado, i.é., relações entre oferta e demanda pela divisa estrangeira.

Nos últimos dias nosso câmbio está sob forte depreciação, ou seja, precisamos de mais reais para adquirir um dólar, o que na prática fez com que um dólar custasse R$ 4,20. Os determinantes dessa depreciação recaem, fundamentalmente, sobre a redução das taxas internas de juros e uma reacomodação global de portfólios, que têm provocado fuga de capitais, refletindo sobre nossa taxa de câmbio, em depreciação momentânea.

Para os exportadores, diz a teoria pragmática que a depreciação traz benefícios para os mesmos; todavia, cada setor tem uma estrutura de custos compostas por diversos itens, dentre eles, custos com insumos/matérias-primas importados, o que provoca um efeito contrário.

Coincidentemente, as exportações de carne para China vieram num momento de aumento do dólar. No âmbito interno, infelizmente, os preços da carne foram majorados, causando uma prévia altista de inflação atípica de demanda auferida pelo índice de preço IPCA-15 de dezembro e limitando ainda mais a demanda reprimida existente em nossa economia, em geral.

A Ciência Econômica ensina que preço alto de determinado bem, de duas, uma: demanda elevada ou oferta insuficiente. No caso da carne, diz-se que foi a forte demanda chinesa que afetou os preços internos, diante de uma estrutura de produção bovina pouco eficiente, capacidade ociosa elevada e falta de investimentos.

Espera-se que com o aumento das exportações haja reinvestimentos nesse setor, que poderá normalizar a situação de oferta e consumo domésticos, devido à ampliação de novas plantas produtivas e melhorias nos sistemas de produção existentes.

Portanto, câmbio no lugar de equilíbrio, é aquele que resulta de taxas de juros naturais, taxas de juros de mercado e taxas de juros prudenciais a partir das intervenções da política monetária e cambial, combinadas genuinamente entre si, sem perder de vistas, as reservas internacionais para fazer frente a futuros e incertos ataques especulativos, bolhas especulativas ou depreciações elevadas e duradouras.

Com a reinvenção e reestruturação do comércio internacional, teremos que estar atentos quanto a seletividade dos parceiros comerciais, evitando, ao máximo, a dependência e concentração em poucos parceiros comerciais, porque, a melhor maneira de proporcionar taxas de câmbio eficientes é a partir de um balanço de pagamentos superavitário.


Ernani Lúcio Pinto de Souza, 57, cuiabano, economista do NIEPE/FE/UFMT, ms. em planejamento do desenvolvimento pela ANPEC/NAEA/UFPA. Foi ex-vice-presidente do CORECON-MT.(elpz@uol.com.br)

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