Artigo – DF com miséria

A edição de 22 de novembro do Jornal de Brasília trouxe uma manchete chocante e dramática: “R$ 85,00 por mês dão sobrevida a 260 mil”. Em síntese, quase 10% da população da capital da República, da mais rica Unidade da Federação, vivem (ou sobrevivem) com míseros R$ 85,00 mensais, cerca de R$ 2,83 por dia.

O caso do menino de Itapoã que desmaiou de fome não é isolado. Como bem assinala a excelente matéria das jornalistas Jéssica Antunes e Raphaella Sconetto: “A fome não está sozinha. Ela vem com falta de oportunidade, baixa escolaridade e desemprego. Segundo dados da Codeplan, as mais altas taxas de desocupação se concentram nas regiões de baixa renda, como Estrutural, Fercal e Itapoã. Esses locais também concentram pobreza e fome”.

Efetivamente, a fome, a habitação precária, a falta de saneamento básico, o desemprego ou subemprego, a ausência de cobertura previdenciária, o transporte público inacessível ou penoso, em suma, a vida miserável, é o cotidiano de 65 mil famílias em Brasília.

Aliás, tratamos apenas do quadrilátero, mas se agregarmos o contingente miserável residente nos municípios de nossa periferia e que formam a nossa área metropolitana, este número fatalmente saltaria para perto de 500 mil, meio milhão de miseráveis num raio de 70 km da Praça dos Três Poderes.

A matéria lembra que, segundo dados da FAO/ONU, a fome atinge sete milhões de brasileiros; 42 milhões de latinoamericanos e 815 milhões de pessoas em todo o planeta. Isso mesmo, quase 1 bilhão de pessoas passam fome no mundo, que é a causa de 11% das mortes registradas.

Mas a fome e a miséria não são naturais, não é obra do acaso, elas tem causa e esta é a extrema e crescente concentração da renda e da riqueza no mundo e no Brasil. No mesmo dia da referida manchete, circulou a notícia de que a modelo brasileira Alessandra Ambrosio desfilou com um sutiã avaliado em 2 milhões de dólares. O que dizer mais?

Júlio Miragaya – Presidente do Conselho Federal de Economia

 

 

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