Artigo – Dois anos com Temer

Dois anos após ser entronizado na presidência da República, Michel Temer mantém-se com sua estratosférica taxa de rejeição, beirando os 90% qualquer que seja o instituto de pesquisas. A mais recente, contratada pelo Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia (INCT), revela, além da rejeição recorde, que a maioria dos brasileiros hoje acredita que o processo de impeachment da presidente eleita Dilma foi, na verdade, um golpe parlamentar/institucional.

Já uma compilação de pesquisas do Datafolha atribuiu nota média para cada mandato presidencial pós ditadura. Adivinhem qual a pior nota? Temer, com 1,2. Sarney não se saiu muito melhor, com nota 2,0, seguido por Collor, com 3,9, ambos reprovados com notas vermelhas. Com notas azuis, passaram raspando, Itamar (5,2); FHC (5,4) e Dilma (5,1). Já Lula teve nota 8,1, com nota 9,1 no segundo mandato.

Talvez por esse elevado grau de aprovação, mesmo preso, baseado num processo eivado de vícios e irregularidades, todas as pesquisas de intenção de voto para a presidência colocam seu nome disparado à frente dos demais.

A mesma pesquisa do INCT mostra que uma maioria substantiva da população brasileira defende um Estado forte e atuante, desdenhando da capacidade do mercado de garantir a prosperidade para a maioria. Perguntados se a economia deve ser regulada pelo Estado ou pelo mercado, 58,5% defendem a atuação do Estado, contra 41,5% do mercado. Em relação a quem pode promover a redução da desigualdade de renda, 78,8% atribuem a responsabilidade ao Estado e apenas 21,2% ao mercado. Talvez isso também explique a alta preferência por Lula e a rejeição à Temer.

Por fim, vale mencionar que documentos da CIA, só agora libertos do sigilo, revelam que os ditadores de plantão endossaram a execução sumária pelo Exército de centenas de jovens que lutavam por liberdade e por um país mais justo. E ainda tem gente saudosa daqueles tempos sombrios.

Júlio Miragaya – Conselheiro do Conselheiro Federal de Economia, foi presidente da autarquia em 2016/17

Artigo publicado originalmente na edição de 17/05 do Jornal de Brasília.

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