Artigo – E agora, José?
A propalada retomada da economia brasileira em 2018 já não vinha bem das pernas e a greve/locaute dos caminhoneiros jogou por terra as parcas chances de crescimento significativo do PIB neste ano. As apostas dos economistas giram entre 1,5% e 2%, mas eu apostaria em 1%, o que em termos de PIB per capita é equivalente a crescimento zero.
Em maio de 2016, ao derrubar a presidente eleita Dilma, a coligação PMDB/PSDB/Centrão prometia que as reformas neoliberais fariam o País voltar a crescer. Desde então, a economia permaneceu estagnada; o deficit fiscal aumentou; o dólar disparou; o desemprego e o trabalho precário atingiram níveis recorde; e até a inflação voltou a acelerar. As pesquisas traduzem o sentimento do povo: o Datafolha revela que 72% da população acham que a situação econômica do País piorou, 20% acreditam que ficou como estava e apenas 6% pensam que melhorou.
Outra pesquisa do instituto MDA, contratada pela Confederação Nacional dos Transportes, revela que 89,3% da população consideram o Poder Judiciário pouco ou nada confiável e 90,3% acreditam que ele não trata todos da mesma forma. Talvez por tomarem conhecimento, entre outras, de que FHC pediu e recebeu R$ 10 milhões da Odebrecht para a campanha eleitoral de 2010 e não é sequer chamado a prestar esclarecimentos pela Lava-Jato. O extremo rigor que vale para os inimigos não vale para seus protegidos.
Todos sabem que a justiça faz uso da tarja preta para tentar esconder da população sua seletividade no processo investigativo, mas ela não pode ser usada para esconder o retumbante fracasso na gestão econômica. Todas as pesquisas eleitorais mostram qual a opção do povo para recolocar a economia nos trilhos, mas o Poder Judiciário mantém a vontade do povo encarcerada em Curitiba. O drama para a elite é que o cardápio de candidatos por ela oferecido é rejeitado por metade da população, escancarando a ilegitimidade do processo eleitoral. E agora, José?
Júlio Miragaya, vice-presidente da Associação dos Economistas da América Latina e Caribe