Artigo – E o salário, ó…

  • 10 de maio de 2018
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Há trinta anos o professor Raimundo, personagem do saudoso humorista Chico Anísio, fazia com os dedos uma alusão aos baixos salários pagos aos professores no Brasil. A situação dos professores pouco mudou e, pior, parece que vem se generalizando no mercado de trabalho brasileiro.

Dados do CAGED referentes aos últimos 12 meses (abril de 2017 a março de 2018) revelam que o saldo de empregos formais gerados foi de pífios 140,6 mil – incluídos 36 mil em tempo parcial e contratos intermitentes, os formais precarizados –, pois cerca de 90% dos empregos gerados no País têm sido precários (assalariados sem carteira, domésticos ou por conta própria).

Ocorre que o saldo de 140,6 mil empregos “formais” resultou do aumento de 885,3 mil no número de empregos com salários de até 1,5 salário mínimo e da redução de 744,7 empregos com remuneração acima de 1,5 SM. É isso mesmo: fruto da crise econômica e da funesta reforma trabalhista, o País só cria emprego precário e/ou de baixíssima remuneração.

A consequência tem sido a retração do mercado consumidor, economia estagnada e piora dos indicadores sociais. Mas com toda a crise, a burguesia continua ampliando sua riqueza e, para tentar disfarçar o mais grave problema do país, que é a desigualdade social, fruto da falta de emprego e da extrema exploração do trabalho, busca incutir na cabeça do povo que o maior problema é a corrupção, como se esse não fosse inerente às relações capitalistas de produção.

Enquanto isso, em Brasília, torna-se cada vez pior o quadro no mercado de trabalho. O número de postos de trabalho em março (1.318 mil) é incrivelmente inferior ao existente quando o atual governo tomou posse (1.325 mil), ao passo que o contingente desempregado cresceu 88%, de 163 mil para 307 mil, revelando o óbvio: que não se promove crescimento econômico com otimismo e bazófia, mas com políticas e estratégia de desenvolvimento.


Júlio Miragaya, conselheiro do Conselheiro Federal de Economia, foi presidente da autarquia em 2016/17.

Artigo publicado originalmente na edição de 10/05 do Jornal de Brasília.

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