Artigo: G7, G20 e BRICS

  • 24 de maio de 2024
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Por Júlio Miragaya, economista, doutor em Desenvolvimento Econômico Sustentável, conselheiro do Conselho Federal de Economia e ex-presidente da Codeplan. Texto publicado originalmente no portal Brasília Capital

Sabe aquela história da pessoa que ficava no portão de casa e, todo domingo, ao ver uma mulher passar para ir à missa, dizia ao vizinho que ela estava grávida. Repetiu isso por 10 anos e, certo domingo, a mulher passou com a barriga saliente, e ele disse ao vizinho: “Eu não disse que ela estava grávida!”. É mais ou menos assim o que ocorre com os analistas econômicos ocidentais, que há anos afirmam com arrogante convicção que a economia chinesa passará a apresentar crescimento modesto, e, invariavelmente, dão com os burros n’água.

Vejamos a seguinte manchete recente da CNN: “A economia da China superou as expectativas do mercado e registrou um crescimento de 5,3% do PIB no primeiro trimestre de 2024. A alta superou a projeção do mercado, de cerca de 4,6%”. Comparemos com a manchete do site InfoMoney: “PIB dos EUA sobe 1,6% no primeiro trimestre de 2024, abaixo do esperado”.

Em síntese, não obstante as recorrentemente equivocadas projeções de analistas econômicos tão bem remunerados, nada de novo no front. Há dez ou quinze anos se dizia que a economia chinesa crescia em torno de 10% ao ano porque a sua base era pequena, relativamente à norte-americana. Mas agora tem a mesma dimensão e o PIB da China cresce duas ou três vezes mais que o dos EUA. E não fossem os estrondosos gastos militares, próximos a US$ 1 trilhão/ano, e às exportações de armamentos, de US$ 205 bilhões (42% das exportações mundiais), o PIB dos EUA teria crescimento em torno de zero.

Cerca de 60% dos países do mundo têm a China como principal parceiro comercial, ao passo que não mais que 15% têm os EUA como parceiro de maior relevância. Analistas econômicos imparciais projetam que em 2050 o PIB da China será quase o dobro do PIB nominal norte-americano e o triplo do PIB/PPC. Tais números revelam que o império norte-americano já iniciou sua fase descendente, a exemplo de inúmeros casos na História do Planeta. Gradativamente, vai sendo superado pela China como potência hegemônica.

Ao contrário do que pensa “Bananinha Bolsonaro”, o futuro do Brasil deverá estar mais ligado à ascendente China do que ao decadente EUA. E se as potências ocidentais já deixaram de lado o G-7 e buscam fortalecer o G-20, visando nele ter hegemonia, para o Brasil e demais países chamados “emergentes” a “bola da vez” deve ser o BRICS, que tende a se consolidar como um espaço de articulação dos países periféricos contra o domínio exercido na economia global pelas potências ocidentais, que passa pela ditadura do dólar, pelas relações desiguais relativas a investimentos, pelas imposições ditadas por suas empresas transnacionais etc.

Entre os atuais dez membros do BRICS, com as exceções do rico, mas pequenino Emirados Árabes Unidos, e da pobre, mas populosa Etiópia, estão algumas das principais economias do chamado “Sul Global”. Mas, se China, Índia, Rússia, Brasil, Irã, Arábia Saudita, Egito e África do Sul já garantem ao BRICS um PIB superior ao do G-7, é importante destacar que países com economias poderosas e que já integram o G-20, como Indonésia, México e Turquia, não podem ficar fora do BRICS. E suas admissões devem ser objeto de debate na sua próxima cúpula, em outubro próximo, em Kazan (Rússia).

Do mesmo modo, países com enormes mercados internos (superiores a 200 milhões de habitantes), com economias em franca ascensão e enorme peso regional, como Nigéria (maior PIB da África) e Paquistão (potência nuclear) têm que ser não só integrados ao BRICS, como também admitidos no G-20.

Esta deveria ser uma discussão a ser suscitada pelo Brasil na próxima cúpula do G-20, em 18 e 19 novembro, no Rio de Janeiro. E na “fila” ainda estariam Tailândia, Vietnã, Filipinas e Bangladesh. Este seria o caminho para colocar freio no ímpeto insano e devastador do imperialismo norte-americano.

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