Artigo – Mato Grosso: enclave, dinamismo e crise

  • 26 de fevereiro de 2018
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É fato que anteriormente à divisão territorial de 1977 e à estabilidade da economia brasileira em 1995, Mato Grosso vivia uma economia primária sem perspectivas de dinamismo.

Seus ciclos foram semelhantes aos da economia brasileira, com este ou aquele produto natural de extração e tentativas de industrialização de alguns outros produtos primários, fracassadas devido à falta de infraestrutura, insuficiência tecnológica e mercado consumidor cativo.

Após longos anos de relativo isolamento, superado pela custosa interiorização de Brasília, e mais recentemente pela divisão referida, o poder político redistribui-se e reequilibra-se, quebrando-se oligarquias e oportunizando a implementação de novas ações políticas e econômicas, o que possibilitou a redistribuição de rendas e riquezas.

Diante da forte vocação produtiva primária e da “travessia” reestruturante das contas públicas nacionais e sub-nacionais a partir de 1995, promovida pela estabilidade econômica, a agropecuária recupera-se e ganha fôlego e força, culminando em resultados expressivos sobre o produto interno bruto de Mato Grosso.

Toda essa lufada produtiva primária tem origem com a modernização do campo, quando a mecanização produtiva supera a renda diferencial improdutiva e concentrada, devido aos seus elevados níveis de produtividade relativa.

Todavia, faz-se mister, na atualidade, promover a diversificação produtiva, a busca de novos mercados consumidores e a ampliação da própria pauta exportadora mato-grossense, além do aproveitamento das oportunidades decorrentes da nova desconcentração industrial espontânea (globalização) e estimulada (incentivos fiscais seletivos) para fortalecimento da industrialização do estado de Mato Grosso, com a devida implantação de infraestrutura básica, social, econômica e institucional.

Por isso tudo, não há na economia mato-grossense uma economia de enclave predominante (recordem-se da borracha da Amazônia, do café em São Paulo, e da própria charqueada em Mato Grosso), economia esta entendida como aquela que possui baixo grau de internalização do emprego e da renda dependente do mercado externo.

A propósito, o crescente nível da renda per capita, do índice de desenvolvimento municipal (Índice Firjan) e do IDH, principalmente nos municípios exportadores, podem possibilitar tendência de redução das desigualdades e disparidades econômicas no estado, advindos dos efeitos de encadeamentos positivos que irradiam por toda economia do estado, e ainda, diante das perspectivas de ações reestruturantes e fomentadoras por parte do poder público estadual.

Nesse “Tableau Économique“, a dinâmica econômica – capacidade de produção autônoma internalizada para atender aos mercados interno e externo – ora vivida em Mato Grosso vem do setor primário-exportador, com a ascensão das atividades agrícolas familiares em evolução.

Todavia, cresce a inter-relação com o setor secundário industrial, quando ambos darão forte movimento ao setor terciário, reduzindo os impactos da crise recessiva – forte redução das atividades econômicas geradora de inflação e desemprego – contrapondo-se à inércia política e à indecisão nos investimentos devido à quebra de confiança institucional e expectacional no âmbito nacional, porém, em novo momento tácito para transformações das incertezas políticas e econômicas que se aventam.

Alcançar e manter o dinamismo da economia mato-grossense requer que saiamos do Estado Crítico e passemos para um Estado Eficiente, Convergente e Moderno – um Estado fazedor de ambiente para os investimentos e ações públicas. Analogamente, seria uma espécie de um Estado azeitador/facilitador de ambiente, criador de condições e ambientes atraentes, duradouros e sustentáveis, visando os desenvolvimentos econômico, social, institucional, humano e ambiental a partir de uma economia sustentável, mesmo porque, o desenvolvimento é um fim e não um meio.

Não nos conformemos como celeiro do mundo; nem como celeiro da biodiversidade; mas, como celeiro de uma economia sólida, dinâmica, sistêmica e sustentável.


Ernani Lúcio Pinto de Souza, 55, é economista do Niepe/Fe/Ufmt, mestre em planejamento do desenvolvimento pela Anpec/Naea/Ufpa (elpsouza@ufmt.br)

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