Artigo – O fim da História?
Quando Francis Fukuyama, após o colapso da União Soviética, escreveu “O fim da história”, prevendo que o capitalismo definitivamente triunfara e havia chegado ao fim a busca por um modelo alternativo de sociedade, muitos acreditaram.
Eles deveriam saber que enquanto houver injustiça social e desigualdade, haverá a busca por uma sociedade mais justa. Deveriam saber que a luta por uma sociedade socialista não cessará enquanto apenas seis famílias mantiverem patrimônio equivalente ao de 3,5 bilhões de pessoas.
Isso vale para o mundo e vale para o Brasil de hoje. Por aqui, estão deduzindo que a esquerda naufragou de vez no Brasil. Quanta ilusão! Devem ser informados de que Haddad venceu entre os mais pobres (rendimento de até 3 salários mínimos e ensino fundamental), não apenas no Nordeste e parte do Norte, mas em todo o país. E de que o PT elegeu a maior bancada na Câmara Federal, com 56 deputados, e os partidos de esquerda ampliaram sua representação de 125 para 135 deputados federais.
O capitão-presidente deve estar ciente de que não recebeu carta branca do povo brasileiro. Seus 57,8 milhões de votos representam 39% do total dos eleitores. Os 47 milhões de votos em Haddad (32%) e os 42,5 milhões de votos nulos e brancos e abstenções (29%) perfazem 61% dos eleitores brasileiros que não votaram nele.
A partir de 1º de janeiro, não poderá governar com base em fake news e tampouco numa agenda moral. Deverá apresentar soluções para o desemprego, o caos na saúde, os problemas do país e do povo. Enfim, o “Presidente Fake News” deverá dizer a que veio.
Num cenário em que a economia mundial deve mergulhar em nova retração a partir do 2º semestre de 2019, se não vierem as soluções, não serão discursos raivosos – como o proferido em seu “comício por celular” na Paulista, quando disse que “Esses marginais vermelhos serão banidos de nossa pátria, ou vão para fora do país ou vão para a cadeia” – que aplacarão a frustração e a ira do povo. Com Collor não foi diferente.
Júlio Miragaya é vice-presidente da Associação dos Economistas da América Latina e do Caribe (AEALC)