Artigo – Para que servem as forças armadas?

  • 1 de abril de 2021
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Apenas em março deverão morrer 60 mil brasileiros pela Covid, mais que norte-americanos mortos em 15 anos de Guerra no Vietnã. O fato é que temos hoje no Brasil um “governo de militares”, eleito, é verdade, mas que está levando o país para o buraco. O anticomunismo insano expulsou 12 mil médicos cubanos do país, e hoje faltam médicos, assim como faltam leitos de UTI, anestésicos, analgésicos, relaxantes musculares, oxigênio e vacinas, mas sobram incompetência, desumanidade e cinismo. O comando da crise sanitária por um ex-capitão genocida e um general inapto gerou 300 mil mortes, podendo chegar a meio milhão de óbitos em junho/julho. Muitos se perguntam o que fazem tantos militares no governo. Não deveriam estar nos quartéis focados na defesa do País?

Defesa do Brasil deveria ser o foco de nossas FFAA, mas, na verdade, elas combateram mais lutas e revoltas do próprio povo brasileiro que “inimigos” externos. Foram poucas as guerras em que o País se envolveu: a derrota para os rebeldes uruguaios na Guerra da Cisplatina (1825/28); a vitória sobre o argentino Rosas na Guerra do Prata (1852); a Guerra do Paraguai (1864/70), vergonhoso genocídio do povo paraguaio; e o apoio à tomada do Acre, território boliviano (1903). Depois do justo combate ao terror nazifascista na 2ª Guerra Mundial, vieram a vergonhosa intervenção na República Dominicana (1965); a torpe participação na Operação Condor e a recente e injustificável intervenção no Haiti.

Mas no plano interno, atuou intensamente, reprimindo as lutas do povo brasileiro, história que tem origem no massacre do Quilombo dos Palmares pelas tropas coloniais portuguesas e na repressão, pela Guarda Imperial, às revoltas da Balaiada, Sabinada, Praieira, Malês, Farroupilha, Confederação do Equador e Cabanagem. Na República, repressão à Canudos, aos posseiros do Contestado e o apoio à ditadura do Estado Novo. Por fim, a ditadura militar de 1964, que, para além da repressão, tortura e morte, sustentou, em favor da burguesia, o maior arrocho salarial de nossa história. Em 1985, os militares entregaram um país quebrado.

A imensa maioria dos quadros inferiores das FFAA são oriundos do povo, são pobres, negros e pouco instruídos. Também o são muitos dos que chegam ao oficialato, embora a maioria provenha da classe média. Ocorre que a formação desses oficiais é fortemente influenciada pela ideologia militar norte-americana, aquela ministrada na Escola das Américas, focada no ranço anticomunista. Por pura ignorância, muitos de nossos militares enxergam o comunismo como algo intrinsicamente ruim. Ignoram que na China, 85% do povo vivia na miséria até 1949, mas, desde então, comandada por um partido comunista, é o país cuja economia mais cresce no mundo. Que Cuba era, até 1959, governada por um general sanguinário, o cassino/bordel dos mafiosos de Miami, e hoje, comandada por um partido comunista, não obstante 60 anos do criminoso boicote norte-americano, é o país com os melhores indicadores de saúde, educação e segurança da América Latina. Que foi a União Soviética, também comandada por um partido comunista, que derrotou e livrou a humanidade do terror nazifascista. Já passou da hora do alto comando das FFAA deixar a tutela norte-americana e se identificar, minimamente, com os verdadeiros interesses e anseios do povo brasileiro.


Júlio Miragaya, doutor em Desenvolvimento Econômico Sustentável, ex-presidente da Codeplan e do Conselho Federal de Economia.

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