Artigo – Tabu ou confusão

O governo federal revisou essa semana a meta de resultado fiscal, aumentando o déficit previsto para R$ 159 bilhões. Para tentar conter o rombo nesse patamar, recorreu a um tradicional expediente neoliberal: privatizações, sendo a Eletrobras a nova “cereja do bolo”.

No bojo das reformas de cunho liberal, como a trabalhista e previdenciária, economistas e políticos, como Armínio Fraga e João Doria, já vinham defendendo as privatizações. E a tese parece ter ganho defensores também no GDF. Em entrevista a este Jornal de Brasília, o secretário da Sedes Valdir Oliveira defendeu a privatização das empresas públicas do DF, afirmando que a cidade tem que debater o tema e superar este tabu. Os dois principais argumentos do secretário: “o GDF arrecadaria R$ 1 bilhão” e “a enorme ineficiência do Estado”.

Se é para debater, vamos aos fatos: o secretário devia saber que a boa literatura econômica não recomenda vender patrimônio público para cobrir déficit orçamentário, pois fica-se sem o patrimônio e o déficit permanece (vide governo FHC). Muito menos vendê-lo em momento de crise econômica, quando os ativos estão desvalorizados.

Quanto à “enorme ineficiência das empresas estatais”, sugiro ao secretário se informar sobre o grande peso na economia das eficientes estatais de dois dos países mais ricos do mundo, a Alemanha e a Noruega. São estatais 75% das 100 principais empresas chinesas, a economia que mais cresce no mundo há 40 anos; estatais como Furnas, Chesf, Cemig e Copel são altamente lucrativas e estatais como Petrobras e Embrapa são internacionalmente reconhecidas.

Que a ineficiência e a corrupção atingem algumas empresas públicas, todos sabemos, mas as empresas privadas também não estão imunes aos vírus. Se a privatizada Oi é eficiente, porque está quebrada? Quebrou por ineficiência, assim como a privatizada Vasp. Quanto ao vírus da corrupção, creio que basta citar Odebrecht e JBS no Brasil e Samsung na Coreia do Sul.

Júlio Miragaya, Presidente do Conselho Federal de Economia

 

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