Artigo: Tendências da politica econômica até 2022

  • 1 de setembro de 2021
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Certamente o novo Bolsa Família favorecerá o atual presidente, mas há vários outros fatores, econômicos e de outras ordens

Trata-se de uma questão altamente relacionada ao processo político, sobre o qual o economista precisa se basear em análises de politólogos para propor contribuições.

Partindo das análises daqueles cientistas sociais, pode-se começar com a condição que, nas democracias liberais, em geral se observa um contingente do eleitorado convicto na esquerda, outro convicto na direita e um terceiro flutuante.

Espera-se que motivações mais ligadas a ideologias, ideais, costumes, estejam mais enraizadas entre os convictos – os militantes permanentes da esquerda, os que sempre votam na direita, os bolsonaristas fanáticos. Ao longo do tempo, esses grupos vão se alterando, mas, no curto prazo, a rigidez tende a ser suficiente para os políticos deverem priorizar a conquista do contingente flutuante.

Os cientistas políticos vêm destacando três causas para os aumentos na rejeição ao atual presidente: a percepção de um enfrentamento deficiente à atual pandemia, a divulgação de casos de corrupção e a piora das condições econômicas da grande maioria da população. Não existe consenso em relação ao peso relativo de cada uma dessas causas, mas é preciso enfatizar que, para os resultados das próximas eleições, o importante é como estarão esses e outros elementos no momento da votação.

Os analistas de pesquisas de opinião observam que a percepção de descaso do governo com eventos prejudiciais à população tende a ter efeitos desfavoráveis duradouros em sua avaliação, o que deve ocorrer com os muitos que avaliam mal o enfrentamento do governo federal à pandemia. Mortes, sequelas e sofrimento, próprios e de parentes e amigos, atingiram escala capaz de fazer grande diferença na próxima eleição presidencial.

Pesquisas de opinião também constatam que casos de corrupção são muito marcantes para o eleitorado. Eles têm surgido, relacionados ao atual governo, com crescente gravidade, mas suas influências nos resultados dependerão dos desdobramentos e da permanência em pauta, no debate público, até o momento das eleições. Em relação a essas duas causas, o governo não tem tentado corrigir o que ainda for possível e nem sequer se defender de maneira a melhorar sua imagem para o eleitorado flutuante, se voltando, exclusivamente, para seus apoiadores convictos.

A causa econômica envolve, principalmente, a grande parcela da população que não encontra trabalho ou estão em trabalhos precarizados e os elevados preços de itens essenciais da cesta de consumo popular, como carnes e gás de cozinha. Ela teria grande importância para o eleitorado pouco convicto e o governo teria maior influência, por meio da política econômica.

Importa realçar que, independente de ação do governo, o crescimento mundial e os efeitos da pandemia sobre o aumento da poupança das famílias e o represamento da demanda criaram condições para a retomada da economia. As pesquisas conjunturais mostram essa retomada tentando se estabelecer há vários meses e deve se consolidar e se intensificar com o controle da pandemia e o aumento da circulação de pessoas.

Contudo, a influência dessa atividade aumentada sobre a geração massiva de ocupações menos precárias precisa chegar a tempo, para favorecer ao governo no momento das eleições. Existe a possibilidade de o governo aumentar e acelerar essa geração de ocupações, por meio de obras públicas e incentivos a setores intensivos em trabalho, inclusive com atuação mais ampla dos bancos públicos. Tais ações envolveriam aumentos de tributos e/ou de endividamento público, com ambos enfrentando grandes resistências.

Maior endividamento público, sem políticas que assegurem adequado controle das taxas de juros de diversos prazos e da taxa de câmbio, assegurando limites apropriados, teria possível efeito contracionista sobre a atividade econômica e expansionista sobre a inflação. Tanto as políticas de geração de emprego mencionadas quanto as destinadas a evitar os efeitos indesejados das elevações no endividamento público são pragmáticas e têm funcionado nas diversas especificações, como a proposta pelo governo dos EUA para recuperá-los da pandemia. Mesmo assim, não terão apoio da atual equipe econômica, embora ela possa ser substituída.

O mesmo não pode ser feito com a diretoria do Banco Central, por ter se tornado independente, devendo cumprir seu principal mandato, de manter a inflação dentro de suas metas, o que é buscado, atualmente, com metas para a taxa de juros de curtíssimo prazo, mesmo que possa restringir a atividade econômica. Enfim, as dificuldades, operacionais, institucionais e políticas, são grandes para uma política de geração de empregos mais segura. Ainda assim, o governo pode arriscar um endividamento público maior, após a conciliação com restrições institucionais, em particular os tetos de gastos, o que já poderia ser muito desgastante.

Adicionalmente, temos a outra importante fonte econômica de rejeição ao governo, os altos preços de itens essenciais da cesta básica da população. A resiliência da inflação em geral, com poucas perspectivas de rápida reversão com a política monetária tradicional, dificulta ainda mais o ajuste desses preços específicos, que têm grande potencial de estragos eleitorais.

Até agora, em termos de melhoria das condições econômicas da população, o governo tem se empenhado apenas em viabilizar um aumento substancial num novo programa Bolsa Família. Certamente essa ação favorecerá a votação do atual presidente, mas vários outros fatores, econômicos e de outras ordens, na forma em que chegarão no momento da eleição, determinarão o seu resultado.

Fernando de Aquino
Conselheiro federal e coordenador da Comissão de Política Econômica do Cofecon

Artigo publicado originalmente na Carta Capital. Clique AQUI para acessar.

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