Artigo – Viva a velha política

  • 15 de março de 2018
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O título do artigo pode parecer estranho e indevido, mas a julgar pelo que andam fazendo e falando os políticos que se apresentam como representantes de uma nova política, torna-se até apropriado. Entre esses, alinham-se políticos novatos, como Doria, Rodrigo Maia e Bolsonaro; debutantes, como Luciano Huck; e até mesmo alguns mais rodados.

A questão é: há, de fato, por parte desses políticos, a adoção de novas práticas ou tudo não passa de jargão, embuste ou mero marketing? As evidências são de que, via de regra, os apologistas da nova política preservam o que há de pior da velha política, como o toma-lá-dá-cá, infidelidade partidária e negociação de tempo de TV, mas rechaçam o que havia de melhor: o bom debate ideológico (sem agressões oportunistas e infundadas) e a valorização da base programática.

Fazem parte da história política do país os embates ideológicos e programáticos entre Vargas, Jango, JK e Lacerda no período pré-ditadura; entre Brizola, Tancredo, Ulisses Guimarães e Mário Covas na fase de redemocratização; e, mais recentemente, entre Lula, FHC e ACM. Tais embates não mais se observam. Se a velha política é a que preserva a identificação ideológica, valoriza a base programática e não subordina as demandas de 208 milhões aos interesses do mercado financeiro, que viva a velha política.

Uma característica comum aos pregoeiros da nova política é sua mais absoluta subordinação à agenda de reformas liberais, pró-mercado. Comemoram a retomada do emprego mas omitem o que a PNAD/IBGE escancara: em 2017, envolvendo apenas os chefes de família, 672 mil pessoas encontraram novas ocupações, sendo 75% na condição de trabalho precário (conta-própria, assalariado sem carteira e empregado doméstico), ao passo que os empregos com carteira assinada tiveram queda de 440 mil. A outra face da mesma moeda: o número de brasileiros com fortuna superior a um bilhão de dólares, segundo a Forbes, cresceu de 31 para 43.


Júlio Miragaya – Conselheiro do Conselheiro Federal de Economia (COFECON), foi presidente da autarquia em 2016/17.

Artigo publicado na edição de 15/03/2018 do Jornal de Brasília

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