“Choque de austeridade causou crise atual”, afirma economista

  • 31 de outubro de 2017
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O economista Pedro Linhares Rossi, diretor do Centro de Estudos de Conjuntura e Política Econômica da Unicamp, realizou nesta terça-feira (31) uma palestra durante o seminário  “Crise econômica e incerteza política: qual o papel do Estado para o Brasil sair da recessão?”, promovido pelo Conselho Federal de Economia e pela Associação Brasileira de Economia da Saúde (ABrES). O evento, que também foi transmitido via internet por meio da página do Cofecon no facebook, aconteceu na sede da autarquia, em Brasília.

Ao dar as boas-vindas a todos, o presidente do Cofecon, Júlio Miragaya, afirmou que “o Estado está contribuindo muito pouco para sair da recessão e o setor de saúde tem sido fortemente penalizado”. Miragaya saudou a parceria entre o Sistema Cofecon/Corecons e a ABrES, no que foi acompanhado por José Nivaldo, secretário executivo da ABrES: “Esperamos que esta parceria seja frutífera na produção de trabalhos técnicos”. A economista Mônica Beraldo, vice-presidente do Corecon-DF, ressaltou que o Regional tem participado de outras discussões envolvendo saúde e o médico sanitarista Sergio Piola afirmou que esta aproximação com o Cofecon “é um momento de muita esperança para nós, porque sempre nos preocupamos em como fazer os economistas se interessarem mais pela economia da saúde”.

Pedro Linhares Rossi iniciou sua palestra afirmando que o Brasil vive a maior crise econômica de sua história. Comparou o momento atual a outros de grande dificuldade ocorridos nas décadas de 1930, 1980 e 1990, mas apresentando dados que mostram que a crise vivida desde 2015 é mais grave. “Toda grande crise é multifacetada, mas tem um fator principal. E esta é explicada por um grande freio de mão na economia a partir do ano de 2015”, argumentou o economista. “A desaceleração começa antes, com uma redução de investimentos em 2014, mas em 2015 vai ser agravada pela queda no consumo das famílias, causada pelo choque recessivo na economia brasileira”.

Ao falar do ciclo econômico vivido a partir do governo Lula, Rossi argumentou que houve crescimento econômico e distribuição de renda como o Brasil ainda não havia visto, e que o investimento foi induzido pelo consumo das famílias, e não o contrário. “Mas enquanto a estrutura da demanda se modernizou, o mesmo não ocorreu com a estrutura de oferta”, apontou o economista. “O diagnóstico estava correto: era preciso melhorar o modelo de oferta. Dilma fez políticas de oferta, fez quase tudo o que a FIESP queria, exceto a reforma trabalhista. Políticas de oferta nem sempre funcionam. Podem resultar em investimento ou engordar a margem de lucro”.

Quando tratou sobre a desaceleração econômica vista já em 2014, o economista argumentou: “Havia um déficit que não era confortável, mas não se justificava o discurso de que o Estado estava quebrado. Dilma comprou este discurso, e o ajuste em 2015 foi um total fracasso. Os erros dos governos Lula e Dilma provocaram uma desaceleração, mas a quebra estrutural no consumo das famílias foi causada por quatro choques: fiscal, cambial, de preços administrados e de juros. Isso gera um caos numa economia que já estava fragilizada”.

Desta forma, conclui Rossi, “a crise foi gerada pelo próprio governo. Não teria sido a maior crise econômica da história do Brasil se não fosse o choque de austeridade”. E, ao analisar o governo Temer, afirmou que este está transformando o Estado, mas por meio de imposição, sem discutir com a sociedade. “Há um projeto de Brasil de longo prazo que desconstrói o Estado brasileiro. A emenda do teto dos gastos é oposta ao que está posto na Constituição Federal de 1988, que é uma rede de proteção social. O que está por trás disso? A retirada de serviços públicos e a substituição por transferências públicas. É outro projeto de país que tem que ser combatido. Ao longo das últimas eleições, o projeto da Constituição de 1988 vem sendo ratificado”.

Após a palestra foi aberto um espaço para envio de perguntas, tanto de quem acompanhou presencialmente quanto de quem assistiu pela internet. O vídeo da palestra está disponível na página do Cofecon no facebook.

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