Cofecon e Corecon-RJ solicitam esclarecimentos ao IBGE

  • 27 de abril de 2017
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ibge pesquisaNa última quarta-feira, 26 de abril, o Conselho Federal de Economia e o Conselho Regional de Economia do Rio de Janeiro (Corecon-RJ) enviaram ofício ao presidente do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Paulo Rabello de Castro, solicitando esclarecimentos sobre alterações na metodologia da PMC e PMS. Segue abaixo o documento na íntegra:

Senhor Presidente,

1.    Em 30 de março de 2017 o Conselho Federal de Economia (COFECON) e o Conselho Regional de Economia da 1ª Região (CORECON/RJ) tomaram conhecimento dos resultados referentes à Pesquisa Mensal de Comércio (PMC), divulgada por este renomado instituto, apontando uma queda de 0,7% no volume de vendas no comércio varejista nacional em janeiro na comparação com o mês imediatamente anterior.

2.    Contudo, em 12 de abril de 2017 o IBGE informou, por meio de uma nota técnica, que havia selecionado uma nova amostra para a PMC, vigente já a partir de 2017, e que utilizara uma nova metodologia na construção do ano-base da pesquisa. Evidentemente que se trataria de algo corriqueiro nas inúmeras atividades do IBGE, não fosse o fato de que tais mudanças provocaram uma abrupta alteração no resultado apurado pela PMC, de variação negativa em janeiro de -0,7% para positiva de +5,5%.

3.    Situação similar ocorreu com a Pesquisa Mensal de Serviços (PMS), cujos resultados foram alterados em janeiro, de variação negativa de -1,0% para positiva de +1,4%, e, em fevereiro, de variação negativa de -2,2% para positiva de +0,7%.

4.    Diante das acentuadas variações, diversos analistas econômicos, inclusive de bancos e consultorias, manifestaram estranheza não só pela repentina mudança metodológica, mas por apresentar resultados tão díspares dos anteriormente divulgados, afinal, ainda que a queda da inflação possa apontar para um aumento do poder aquisitivo do brasileiro, a persistente alta nas taxas de desocupação, medidas por esta instituição, não parecem apontar para uma retomada do consumo nestas proporções. Deve-se ressaltar ainda que, historicamente, outras mudanças metodológicas têm provocado alterações apenas marginais nos resultados.

5.    Chama mais atenção o fato de não ter havido uma divulgação prévia do aperfeiçoamento metodológico adotado pelo Instituto, assim como discussões com a comunidade acadêmica e outras organizações da sociedade civil, deixando espaço para dúvidas quanto à urgência de tais mudanças, justo num momento no qual o comércio acumulava baixas consecutivas, reforçando a trajetória de queda da média móvel trimestral desde 2014.

6.    Preocupa ainda a informação veiculada pelo jornal Valor Econômico, de 20/04/2017, em que o diretor de Pesquisas do Instituto afirmou ser possível haver novos ajustes nas próximas divulgações, tanto na PMC quanto na PMS, pois a nova metodologia ainda precisaria de mais tempo para ser consolidada, sugerindo que estudos de impacto e projetos piloto nunca haviam sido realizados.

7.    Mas o que causou maior estranheza foi o fato de o novo resultado positivo revelado pelo IBGE ter sido imediatamente (em 17/04) apropriado pelo Banco Central para elevar sua estimativa de desempenho da economia brasileira, mediante a elevação do Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) de janeiro de 2017 de -0,26% para +0,62% e estimando-o em 1,31% para fevereiro do mesmo ano, o que serviu de base para revisão para cima dos prognósticos de desempenho do PIB no primeiro trimestre de 2017 por parte de diversas instituições.

8.    Este prestigioso instituto tem um imenso histórico de serviços prestados ao Brasil, e nem sequer as indevidas intervenções governamentais no período da ditadura militar lograram macular seu elevado conceito.

9.    Preocupados com as consequências de mudanças tão abruptas, não só no auxílio às avaliações de conjuntura econômica, mas também num possível arranhão na imagem desta instituição – que em 2015 recebeu o Prêmio de Destaque Econômico conferido pelo Conselho Federal de Economia na categoria “Instituição Técnica” – e buscando preservar a instituição de possíveis interpretações de manipulação de dados, o COFECON e o CORECON/RJ solicitam os devidos esclarecimentos públicos acerca da previsão da mudança metodológica para a data em que foi efetuada e das justificativas técnicas para as mudanças tecnológicas na PMC e na PMS.

Atenciosamente,

ECON. JÚLIO MIRAGAYA
Presidente do COFECON

ECON. JOSÉ ANTÔNIO LUTTERBACH SOARES
Presidente do CORECON/RJ

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