Cofecon realizou debate sobre política monetária

  • 7 de maio de 2021
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O Cofecon realizou nesta quinta-feira (06) um debate de conjuntura. O tema desta vez foi política monetária e os economistas convidados foram Guilherme Mello e Gabriel Galípolo. O evento foi transmitido ao vivo pelo canal do Cofecon no YouTube e pode ser acessado AQUI.

Em sua fala de abertura, o presidente do Cofecon, Antonio Corrêa de Lacerda, falou sobre o Plano Biden como uma quebra de paradigma por parte da nação mais importante da economia mundial. “O Brasil está na contramão, preso às suas próprias armadilhas, como a lei do teto de gastos, algo que não tem precedente na história econômica mundial”, argumentou o presidente.

Já o conselheiro coordenador da Comissão de Política Econômica, Fernando de Aquino Fonseca Neto, afirmou que o debate era muito oportuno porque o Banco Central elevou a taxa de juros em 0,75 ponto percentual pela segunda reunião consecutiva, passando de 2% para 3,5%. “Mas é claro que a política monetária não se restringe à Selic”, observou Aquino.

Guilherme Mello foi o primeiro a falar e destacou a política monetária como um tema que tem ganho relevância e complexidade, uma vez que a crise de 2008 obrigou a repensar a macroeconomia. “O tema vem passando por uma transformação gigantesca na implementação de políticas públicas”, comentou Mello. “A política monetária era um instrumento importante, mas não central no arranjo de políticas macroeconômicas. No arranjo financeiro e monetário pós-Bretton Woods foi dado mais espaço para a atuação das políticas nacionais e para a utilização de política fiscal”.

O economista caracterizou a política monetária até os anos 70 como algo discricionário, que não seguia necessariamente uma regra. Com o fenômeno da estagflação e a ascensão de governos conservadores (como os de Margareth Tatcher e Ronald Reagan) vem a primeira onda monetarista, trazendo a visão da inflação como um fenômeno monetário. “Eles defendiam que a velocidade de circulação da moeda era constante e criavam hipóteses ad hoc, e foi a partir daí que a política monetária passou a estar submetida a uma regra”, argumentou Mello. “E a regra era: aumentar a base monetária conforme se aumenta a renda e o produto. É um fracasso retumbante, porque é descolado dos mecanismos de funcionamento do capitalismo. O fracasso foi abandonado, mas não a ideia de que deveria haver regras”.

A crise de 2008 trouxe uma mudança de entendimento da política monetária. “Os policy makers perceberam que os modelos e a teoria utilizada não dão conta da realidade e têm furos enormes, seja na concepção sobre a moeda, seja sobre a política fiscal”, observou o palestrante. Comentou o caso do Japão, onde o estímulo à inflação levou a taxa de juros real a um patamar negativo. “Houve uma quebra de paradigmas, com o salvamento de empresas e o abandono de qualquer regra de política monetária. Em alguns países a taxa de juros foi para abaixo de zero. Os Bancos Centrais passaram a atuar em todo o espectro da taxa de juros, no curto, médio e longo prazo”.

Há pouco mais de um ano, o mundo vive a pandemia causada pela Covid-19. “A política monetária continua absolutamente não convencional. O Banco Central japonês é acionista majoritário de centenas de empresas e compra ações para manter a bolsa se valorizando e evitar uma crise financeira. A Alemanha compra empresas para que não sejam vendidas para a China”, apontou Mello. “O Banco Central Europeu pede que os Estados gastem. Enquanto isso, nós reduzimos a taxa de juros, promovendo uma fuga de capitais. Nessa inflação gigantesca que temos não há nenhum controle de capitais. Estamos numa recessão aumentando a taxa de juros. Só este aumento já nos custou todo o auxílio emergencial do ano passado”.

O segundo debatedor, Gabriel Galípolo, começou sua fala argumentando que as metas de inflação, que existem desde os anos 80, trazem consigo a ideia de que a moeda é endógena. “É a ideia de que não importa controlar a quantidade de moeda existente. O que importa é controlar, através do preço, do custo de oportunidade de preservar a riqueza na forma líquida, ou não”, apontou. Em seguida, citou uma fala de Alan Greenspan, na qual afirma que o país sempre poderá emitir moeda para pagar a dívida; e outra de Jerome Powell, dizendo que para inundar o mercado com liquidez não é preciso imprimir dinheiro, que isso pode ser feito digitalmente.

Os bancos centrais promoveram o chamado “quantitative easing”. “Se eu somar os cinco principais bancos centrais do mundo, eles injetaram 30 milhões de dólares no mercado financeiro para sustentar e fazer o preço destes ativos. Comprando títulos no mercado secundário, o banco central controla a taxa de juros de longo prazo”, apontou o economista. Isso é relevante porque em 2008 se aprofunda uma nova forma de rentismo: “Ele vive da queda na taxa de juros, o que provoca uma elevação no valor presente dos títulos, e quanto menor a taxa de juros, maior o valor presente”.

Galípolo apontou para a necessidade de que a política fiscal acompanhe a política monetária. “Para ampliar a moeda não enquanto reserva de valor, mas enquanto poder aquisitivo e meio de pagamento. Esse gasto é que vai gerar renda e reativar o consumo”, argumentou. Em seguida, tratou do caso brasileiro: “Em 2013 e 2014 a taxa de juros foi de 7 para 14%, e em 2015 fizemos aquele ajuste que zera os investimentos. Agora chegamos à taxa de juros tão baixa pelo excesso de liquidez que havia na economia internacional. Com a retomada da atividade econômica nos Estados Unidos e Europa os juros vão subir. Estamos ficando com o pior dos mundos: nosso programa de metas de inflação é uma muleta para a âncora cambial. Apesar da atividade econômica ainda estar apática, estamos tendo que subir os juros”.

Ao falar sobre a recente alta nos juros, apontou que o mandato do Banco Central, com a recente adoção da autonomia, deveria observar também o emprego. “Isso foi percebido no comunicado com Copom ontem. Mas estamos subindo os juros porque entendemos que o crescimento está vindo mais rápido e forte do que deveria. Como é que você vai falar isso para as pessoas? Não está acontecendo nada disso na vida delas. É o efeito do câmbio”, criticou o economista. “Temos um problema de câmbio, uma moeda não conversível. Por isso, deveríamos fazer mais do que os outros países fazem. Temos que atuar também no mercado de câmbio”.

Os convidados

Gabriel Galípolo é graduado pela PUC/SP e mestre em Economia Política pela mesma universidade. Desde 2017 é presidente do Banco Fator. Foi chefe da assessoria econômica da Secretaria de Transportes Metropolitanos do Estado de São Paulo (2007), diretor da Unidade de Estruturação de Projetos da Secretaria de Economia e Planejamento do Estado de São Paulo (2008). Em 2009 fundou a Galípolo Consultoria, da qual é sócio-diretor. Foi professor da Graduação da PUC/SP e do MBA de PPPs e Concessões da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo. É também coautor dos livros “Manda quem pode, obedece quem tem prejuízo” e “A escassez na abundância capitalista”.

Guilherme Mello é graduado em Ciências Econômicas (PUC/SP, 2006) e em Ciências Sociais (USP, 2008), Mestre em Economia Política (PUC/SP, 2009) e doutor em Ciência Econômica (Unicamp, 2013). Atua como professor e coordenador do programa de pós-graduação em desenvolvimento econômico do Instituto de Economia da Unicamp.

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