Artigo – Como vota, Senador?
Inicia-se hoje a votação do impeachment da presidente Dilma Rousseff, que marcará profundamente o futuro político, social e econômico do Brasil. Há senadores que, cientes da fragilidade da acusação de crime de responsabilidade, justificam o voto pelo impeachment alegando que Dilma não tem mais governabilidade e teve uma péssima gestão da economia.
Mas como justificar o impeachment pela taxa de inflação de 10% ao ano quando em 1989 o índice chegou a incríveis 82% num único mês e o Congresso não destituiu o presidente Sarney? Ou devido à taxa de desemprego a 11% e juros a 14,25% ao ano quando, com FHC, o desemprego chegou a 15% e os juros a 45% e o Congresso também não o destituiu?
Aponta-se o enorme déficit fiscal de Dilma. No entanto, a projeção de déficit fiscal de Temer para 2017 será superior à de 2015, e aqui reside o essencial. É justo sanear as contas públicas mediante um brutal corte nos gastos sociais, especialmente em educação e saúde, como quer Temer, deixando intactas as renúncias fiscais e o gasto de R$ 500 bilhões com juros da dívida pública?
Alega-se que Dilma promoveu um enorme loteamento de cargos entre os partidos? Sim, senadores, mas todos sempre fizeram o mesmo, inclusive Temer, que chegou a nomear uma “melancia” na SPU.
Terão visto que, segundo o Datafolha, 37% acham que a Constituição Federal está sendo desrespeitada, enquanto 14% têm dúvidas sobre a lisura do processo. Têm ciência de que estão realizando uma eleição indireta para presidente? Repetirá o Senado Federal o vergonhoso papel de 1964? Lembram que a razão do golpe militar era a mesma: má gestão da economia, corrupção e excessivos gastos sociais?
Acreditam realmente nos propósitos éticos e morais do PMDB, PSDB, DEM, partidos do “Centrão”, e de um ex-ministro para quem “é preciso afastar a presidente Dilma para poder estancar a sangria representada pela Lava-Jato”? Com a palavra, os economistas Cristovam, Reguffe e o engenheiro Hélio José.
Júlio Miragaya, presidente do Conselho Federal de Economia.