Cristina Fróes aborda competitividade: “temos que investir em infraestrutura”

  • 10 de setembro de 2021
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A competitividade do Brasil na economia mundial foi o tema abordado pela economista Cristina Fróes de Borja Reis no XXIV Congresso Brasileiro de Economia. A palestra dela ocorreu na tarde desta sexta-feira (10).

Cristina iniciou sua fala citando uma frase do professor David Kupfer, falecido no ano passado: “A competitividade é função da adequação das estratégias das empresas individuais ao padrão de concorrência vigente no mercado específico. Em cada mercado vigoraria um dado padrão de concorrência definido a partir da interação entre estrutura e condutas dominantes do setor. Seriam competitivas as firmas que a cada instante adotam estratégias de conduta (investimentos, inovação, vendas, compras, financiamento, etc) mais adequadas ao padrão de concorrência setorial”.

A pandemia trouxe transformações na dinâmica e no padrão concorrencial, disruptivas em alguns casos, que transformam o padrão de reação e proatividade à forma como os mercados globais vêm se organizando. “Olhando para a concorrência, duas premissas centrais: o tempo é fator decisivo, na medida em que as estratégias competitivas adotadas não rendem frutos imediatamente; e existe incerteza em relação ao futuro, o que implica a incapacidade da empresa avaliar com precisão as suas estratégias e o próprio padrão de concorrência setorial”, comentou Cristina, afirmando que as empresas adotam estratégias competitivas de acordo com a avaliação do seu desempenho passado e das expectativas sobre o futuro. “As empresas ficavam a todo momento pedindo protocolos de funcionamento, não só para responder às exigências sanitárias e continuar operando, mas para lidar com os impactos diferentes que a pandemia estava gerando na gestão do negócio”.

As estratégias de longo prazo ficaram em segundo plano. “A incerteza em relação ao que vai acontecer implica incapacidade de avaliar com precisão suas estratégias. Num cenário tão difícil quanto a pandemia, se tornou um desafio maior”, pontuou a economista. “Competitividade é um fenômeno ex post”.

Um dos temas chaves que tem sido colocado é a questão da resiliência das cadeias de valor. A concorrência internacional terá que lidar com esta fragmentação produtiva. “Como as cadeias sofreram as ondas, e qualquer oscilação na China gera uma propagação enorme para o restante das economias mundiais, ser resiliente aos problemas gerados pela pandemia tornou-se uma das palavras-chave para manter e sustentar os negócios nesses tempos”, avaliou Cristina. Mas ela escolheu outra palavra como mais importante. “Embora a resiliência tenha sido enfatizada, continuo achando que não podemos perder de vista a robustez, a capacidade de não ser abalado pela crise. A prioridade agora é manter o negócio funcionando e conseguir melhorar o desempenho econômico, as vendas, as receitas, a lucratividade, isso é uma construção de médio e longo prazo”.

Ela questionou que, diante do destaque que tem sido dado à resiliência, o “upgrade” ficou para trás. “É importante aumentar o valor adicionado nas atividades da empresa. Quando se eleva um valor adicionado haverá uma elevação da produtividade da empresa, uma elevação dos salários e da qualidade dos empregos gerados. Um país com maior produtividade, melhor nível de salário, terá chances de ter uma dinâmica econômica que se sustente e redistribua. Não se pode perder esta visão norte de melhorar nossa participação nas cadeias de valor”.

No atual momento, há dois fatores para entender o futuro das cadeias globais de valor. Do ponto de vista das multinacionais, há uma busca por cadeias globais resilientes, capazes de operar num contexto VICA (da sigla Volátil, Incerto, Complexo e Ambíguo). Do ponto de vista dos governos, há o estímulo à renacionalização de conteúdos e estímulos à produção local para que as empresas reduzam a pegada multinacional. Apontou também para a disputa sino-americana, o plano quinquenal chinês consolidando a inovação centrada nas tecnologias 4.0 e a disputa dos dois países para descarbonizar suas economias. “Os investimentos em energia limpa devem dobrar na década de 2020”, prognosticou.

Ao falar especificamente sobre o Brasil, caracterizou o país como fora do eixo dinâmico, mas inserido nas cadeias globais de valor. “Somos um fornecedor de alimentos e matérias-primas, consumidor de atividades, tarefas, componentes de maior intensidade tecnológica, conhecimento e valor adicionado”, analisou. “Pode ser que após a pandemia o Brasil se recupere. Temos de investir em infraestrutura de saúde e educação, transportes, internet, e se ela vigorar, teremos chance de construir um futuro melhor para todos”.

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