Desigualdade, inflação e salário mínimo

  • 21 de setembro de 2021
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A desigualdade extrema que perdura historicamente no Brasil é uma das nossas principais mazelas. Economicamente, ela limita o potencial do mercado interno de alavancar o PIB e, socialmente, exclui uma significativa parcela da população do acesso a um padrão de vida minimamente digno.

A inflação e o salário mínimo são dois dos principais fatores que têm impactado a desigualdade; recentemente, ambos têm apresentado um comportamento que contribui para agravar o problema.

De 2007 a 2019, o reajuste do salário mínimo era determinado pelo INPC mais o resultado do PIB de dois anos antes. Nos períodos de crescimento, sempre houve um ganho real para o salário mínimo, ano passado, quando a regra de reajuste não havia sido renovada, o salário mínimo subiu 5,26%, inferior ao INPC de 5,45%.

Os anos de ganho real do salário mínimo promoveram a realocação de parcela da força de trabalho na direção de setores e empresas mais produtivos, de empresas de baixa produtividade e remuneração para organizações com maior remuneração e produtividade.

Já a inflação oficial do Brasil, medida pelo IPCA chegou, em agosto, a quase dois dígitos no acumulado de 12 meses. Isso ocorreu em um contexto de extrema tensão política e de crise hídrica, com o agravante de existir uma maior difusão inflacionária com 72% de itens com variação de preços.

Oito dos nove grupos de bens e serviços pesquisados pelo IBGE subiram no último mês, com destaque para transportes, alimentação e bebidas. Lembrando que quando o Covid-19 atingiu o Brasil, a inflação acumulada estava em 3,3% (acumulado de 12 meses até março de 2020).

Tentando controlar a inflação, o Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central) tem elevado seguidamente a taxa básica de juros (SELIC), o que dificulta o processo de recuperação. Já a tensão política, além dos reflexos no câmbio, provoca mais incertezas sobre a condução da política fiscal.

Essa deterioração do cenário econômico, com aumento da inflação e redução do salário mínimo real, pode contribuir para agravar a desigualdade entre os brasileiros, penalizando o mercado interno e aumentando a parcela de vulneráveis.

Lauro Chaves Neto é professor da UECE, PhD pela Universidade de Barcelona e conselheiro do Cofecon.

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