Artigo – Dois pesos, duas…
Ainda ontem, lembrei-me de que as alegações dos parlamentares para votarem pelo impeachment da ex-presidente Dilma concentraram-se em quatro fatores: a) recessão econômica com elevada taxa de desemprego; b) corrupção generalizada; c) elevado déficit público, decorrente da gastança do governo e d) era simplesmente o desejo do povo.
Passado um ano e dois meses de sua deposição e assunção de Temer, o que se observa: a economia permaneceu em retração, com queda do PIB de 3,5% em 2016, e, no melhor dos cenários, crescimento zero este ano. Em consequência, o contingente desempregado aumentou em 3 milhões no período, alcançando 14 milhões de brasileiros.
Os atos de corrupção adentraram os palácios de governo, seus salões e suas garagens. Metade dos ministros de Temer ou caiu pelo efeito das denúncias de corrupção ou se mantém a despeito das fortes evidências de atos ilícitos.
Quanto à questão fiscal, o Tesouro Nacional divulgou mais um déficit recorde nas contas públicas, tendo alcançado em maio, nada menos que R$ 29,4 bilhões, acumulando um rombo de R$ 167,6 bilhões nos últimos 12 meses. Deve-se observar que, em 2015, o déficit “impeachmável” de Dilma foi de R$ 115 bilhões, saltando em 2016, já com Temer, para R$ 157 bilhões, e deve fechar 2017 em cerca de R$ 170 bilhões. Sem dúvida, um “sucesso” espetacular.
A propósito, o maior aumento nos gastos públicos de janeiro a maio deste ano foi com pessoal (11,8%), sendo que os investimentos (PAC, Minha Casa Minha Vida e outros) tiveram queda de 48,5%. Em consequência, enquanto no primeiro Governo Dilma a taxa média de investimentos totais/PIB foi de 21,7%, em 2016, com Temer caiu para 15,4%.
Por fim, pesquisas do Datafolha revelam que a aprovação a Temer é de pífios 7%, enquanto 81% do povo deseja seu impeachment. Talvez a maioria dos nossos “honestos e imparciais” parlamentares desconheçam esses dados.
Júlio Miragaya, Presidente do Conselho Federal de Economia