Domenico de Masi fala sobre a sociedade pós-industrial

  • 8 de setembro de 2021
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A sociedade pós-industrial foi o tema abordado pelo sociólogo italiano Domenico de Masi na tarde de 08 de setembro. “Após a pandemia viveremos uma fase pós-industrial”, iniciou de Masi, para em seguida caracterizar o que era a sociedade industrial. A produção não seguia mais o modelo agrícola, o trabalho ocupava uma posição central no sistema e o poder era derivado da propriedade dos meios de produção. A cidade mais industrializada do mundo, no início dos anos 1800, era Manchester, na Inglaterra. “Os operários eram 94% dos trabalhadores daquela cidade”, apontou de Masi.

Entre as mudanças trazidas pelo modo de produção industrial encontram-se o aumento da longevidade (de menos de 60 para em torno de 80 anos) e a necessidade de velocidade. “Se compararmos a velocidade com que Júlio César foi de Roma a Paris e a velocidade com que Napoleão, 18 séculos depois, cobriu a mesma distância, eles empregaram duas semanas. Hoje, sem ter os privilégios de um imperador, podemos fazer isso em duas horas”.

Outra característica da sociedade industrial foi o aumento do urbanismo. De Masi citou o exemplo de New York, cidade que tinha 60 mil habitantes no início do Século XIX e seis milhões ao final do mesmo século. “Foram criadas metrópoles enormes dentro das quais ficaram grandes massas de camponeses que depois se tornaram os operários”, apontou o sociólogo. “O consumismo também era uma característica. Existia a ilusão de que os recursos do planeta fossem infinitos e o produto interno bruto pudesse crescer até o infinito”.

Em determinado momento, alguns fatores revolucionaram a sociedade industrial – entre eles, o progresso tecnológico, o desenvolvimento organizacional, a globalização, o avanço das ciências, os meios de comunicação de massa, entre outros. Isso criou a sociedade pós-industrial – enquanto a sociedade ainda raciocina com o paradigma da época anterior. “Os países se dividiram em três categorias: os produtores de matérias-primas e que fornecem mão de obra de baixo custo, os países em via de desenvolvimento (nos quais o primeiro mundo constrói fábricas) e os países que não se ocupam da produção de bens materiais. Eles deslocaram as fábricas os países do terceiro mundo e estão interessados na produção de patentes, objetos criativos e serviços criativos”, explica Domenico. “Há também o que os economistas chamam de desenvolvimento sem trabalho. Estamos aprendendo a produzir bens e serviços com menos trabalho humano”.

Na sociedade pós-industrial quase 70% dos trabalhadores são empregados, gerentes, free lancers. Não há mais a grande quantidade de operários. Se antes prevalecia o trabalho físico, agora prevalece o trabalho intelectual. “A ética é um valor emergente. Existem tecnologias que permitem, muito mais do que antes, descobrir comportamentos ilícitos e até criminosos. Outro valor é a estética. Frequentemente dois objetos têm a mesma qualidade de serviço, mas são escolhidos pelas qualidades estéticas. Foi o grande segredo de Steve Jobs: ele percebeu que poderia ganhar o mercado de smartphones se produzisse produtos esteticamente muito belos”, explica o sociólogo.

A subjetividade e a emotividade também são valores emergentes – afinal, são as emoções que impulsionam a criatividade. De Masi também falou de alguns valores tipicamente femininos, como a pontualidade. E, por último, citou a qualidade de vida. “Muitos de nós estamos convencidos de que não existe o além e que só se vive uma vez e, por isso, precisamos desfrutar de uma boa qualidade de vida”, comentou. “Estamos num momento único em que a sociedade industrial já se encerrou e a pós-industrial ainda não começou. É o momento mágico no qual podemos decidir nosso destino e o destino da sociedade”.

Finalmente, falou sobre o Brasil com um país extraordinário, que antecede a revolução do século XXI. “O século XXI será inter-racial, e o Brasil já é inter-racial. O futuro é criatividade e estética, e o Brasil valoriza isso, tanto nas áreas nobres como nas favelas. O mundo futuro será um mundo em que prevalecerá o ócio criativo, e esta é uma das características que determinam a sociedade brasileira”. E desejou que a pandemia termine logo, para poder voltar a visitar o Brasil: “Ir ao Brasil, para mim, era ter uma riqueza de ideias, de beleza estética, de afetos e amizades. Eu ia duas ou três vezes por ano e quero voltar a desfrutar deste país extraordinário, belo e encantador”.

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