Economista Denise Gentil lançou livro “A política fiscal e a falsa crise da seguridade brasileira”
A aprovação da reforma da Previdência representa uma catástrofe humanitária, é o que acredita a economista Denise Lobato Gentil, professora doutora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). A afirmação foi feita na última sexta-feira, 28 de junho, durante o lançamento de seu novo livro “A política fiscal e a falsa crise da seguridade social brasileira”. O evento ocorreu na sede da Ordem dos Advogados do Brasil no Rio de Janeiro (OAB-RJ), na capital fluminense, e contou com o apoio do Conselho Federal de Economia e do Conselho Regional de Economia do Rio de Janeiro (Corecon-RJ).
Em sua palestra, durante o lançamento, a economista destacou que há manipulação de dados referentes ao campo fiscal e previdenciário brasileiro. “É um debate desonesto porque muitos fatos são afirmados sem comprovação, como dizer, por exemplo, que teremos um enorme deficit em 2060, algo próximo a 12% do PIB, quando economistas não conseguem projetar o PIB trimestral. O PIB de 2019 já foi revisado 12 vezes. Portanto, se em um espaço de seis meses o indicador foi revisto diversas vezes, imaginem o que é realizar uma reforma da Previdência com base em uma projeção de deficit que é absolutamente catastrófica até o ano de 2060”, observou Denise Gentil.
Para a economista, o Brasil jamais viu uma reforma com tamanha afronta e injustiça aos brasileiros e faltam informações confiáveis sobre a proposta de reforma, inclusive para os parlamentares. “Como os congressistas podem legislar sobre um tema com base em afirmações que não são comprovadas? Muitos requerimentos de informações foram pedidos pelos deputados e a resposta foi sempre muito evasiva”, comentou Denise Gentil.
O vídeo com a exposição completa da professora doutora Denise Lobato Gentil está disponível no Youtube. Clique aqui para acessá-lo.
Cofecon e Corecon-RJ prestigiaram o lançamento
Estiveram na mesa de abertura do evento o presidente da OAB-RJ, Luciano Bandeira; o presidente do Cofecon, Wellington Leonardo da Silva; a vice-presidente do Conselho Regional de Economia do Rio de Janeiro (Corcon-RJ), Flávia VInhaes; a presidente da Comissão de Previdência Social da OAB-RJ, Suzani Ferraro; e a presidente do Instituto de Advogados Brasileiros (IAB), Rita Cortez.
O presidente do Cofecon destacou, em sua fala, que o Brasil reúne quatro condições para ser um país desenvolvido: PIB de R$ 2 trilhões; população significativa e com grande potencial de mercado interno; vasto território sem disputas territoriais e religiosas; e recursos naturais abundantes. “O que nos falta é uma elite que mereça este nome. Nós não temos uma elite que pense em país, desenvolvimento, bem-estar e vida digna para a população. Nós temos uma elite absolutamente predatória e que a qualquer momento pode vender os seus ativos e será bem recebida em Nova Iorque”, observou Wellington Leonardo da Silva.
Para o economista, apenas banqueiros e rentistas serão beneficiados com a atual proposta da reforma da Previdência. “Por enquanto a capitalização saiu da proposta, o que é muito bom porque não teve sucesso no Chile. No entanto, isso não quer dizer que não poderá voltar ao texto. Basta ver o que aconteceu com a saúde no Brasil: os planos de saúde. A grande maioria não recebe um salário digno que possa arcar com esse tipo de custo”, opinou Wellington Leonardo da Silva.
A vice-presidente do Corecon-RJ, Flávia Vinhaes, observou que o livro lançado pela economista Denise Gentil aponta para o poder da Constituição de 1988 como instrumento transformador da ordem econômica e social em razão de sua natureza inclusiva, universal e progressista.
“Assim como a Carta nasceu de um processo conturbado de disputas políticas, a sua implementação também é fruto de igual confrontação democrática. Se temos a sensação de que na comemoração dos 20 anos da Constituição, em 2008, estávamos em um cenário benéfico em termos de crescimento econômico e expansão das políticas sociais, agora, 10 anos depois, na comemoração dos 30 anos da constituinte, temos a sensação de que ocorreu uma desconstrução, uma desconstitucionalização. Na verdade, o que temos é uma intensa e radical disputa no País e nos cabe, mais uma vez, resgatar o espaço da política enquanto espaço da liberdade da disputa por um projeto nacional e mostrar que, sim, o povo cabe na Constituição”, concluiu Flávia Vinhaes.