Economistas debatem políticas de emprego

  • 8 de setembro de 2021
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Um dos principais problemas da economia brasileira nos últimos anos, e especialmente agravado durante a pandemia, é o nível de desemprego. Os economistas Fernando de Aquino Fonseca Neto e César Augusto Bergo foram os convidados para falar no Congresso Brasileiro de Economia sobre políticas de recuperação do nível de emprego.

Aquino foi o primeiro a falar e contextualizou a recuperação da economia. “No terceiro trimestre (de 2020) começamos uma recuperação e até o primeiro trimestre deste ano ela se mostrou em “V” (pelo formato da letra no gráfico), mas ainda estamos longe daquele ciclo que atingimos até 2013.

No segundo trimestre já voltou a estagnar num nível bastante baixo”, comentou o conselheiro federal. “A pandemia reduz viagens, serviços, comércio e circulação de pessoas, trazendo dificuldade para a atividade econômica. Além disso, há as tensões políticas, que paralisam os investidores”. Aquino também defendeu a adoção de estímulos para recuperar o crescimento.

O governo atual tem apostado na retomada da confiança, que viria com um ajuste severo nas contas públicas. “Isso é baseado numa ideia chamada contração fiscal expansionista. Foi defendida anteriormente pelo Fundo Monetário Internacional, que hoje não prega mais isso”, explicou o conselheiro. “Paul Krugman chama isso de fada da confiança. Em geral, não tem funcionado porque há um fator mais importante, que é a demanda. A empresa só vai aumentar a produção e a própria capacidade produtiva se houver demanda”.

Pela mesma razão, Aquino não vê resultados na redução dos rendimentos do trabalho. Os governos de Fernando Henrique Cardoso, Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff promoveram elevações no salário-mínimo. “Não conseguimos aumentar a produtividade geral e o aumento se deu à custa do rendimento do capital”, analisa. “As empresas ficaram insatisfeitas, há uma demanda por reformas estruturais. Existe a ideia de que uma redução destes custos vai incentivar a produção e os investimentos. Sem demanda, não haverá recuperação”.

Para estimular a demanda, Aquino defende a elevação de gastos e do endividamento. “Mas não é gastar de qualquer jeito e por qualquer coisa. Não é gastar com privilégios ou aceitar desvios de recursos. Gastar de forma inteligente e estratégia, com aumentos da produtividade”, aponta. “Precisamos de uma política de geração massiva de empregos não precários. O mercado de trabalho está em frangalhos. O que melhorou foi o trabalho por conta própria e o informal, e a maioria são empregos de muito baixa remuneração”.

César Bergo iniciou sua fala dizendo que é preciso oferecer oportunidades à sociedade para o emprego voltar a crescer. E apresentou um slide alinhando prioridades da sociedade, do governo, das empresas e dos investidores. “Temos visto vários projetos do governo em parceria com a entidade privada. Isso traz conhecimento para os dois lados, um intercâmbio que não é mensurado”, comenta Bergo. “É importante também que o mercado de capitais promova curvas mais longas de financiamento. Às vezes o governo tem dificuldade de rolar a dívida e no mercado de capitais é possível fazer isso com uma administração responsável”.

Em relação ao emprego, argumentou que o emprego está mudando e é preciso mudar nossa mão de obra. “Temos 14 milhões de desempregados, mas isso é também decorrente do atraso no repasse das novas formas de trabalho para a sociedade. E você, economista, tem um papel fundamental nesta atividade”.

Bergo falou sobre um ciclo virtuoso, no qual o mercado de capitais pode mobilizar e alocar poupança, reduzindo o custo do capital, proporcionando liquidez, melhores taxas de retorno para investimentos e viabilização de um número maior de projetos, aumentando a renda e os empregos. “Nosso mercado financeiro é exemplo mundial. O Banco Central dá exemplo de gestão de regulação, o mercado é testado diariamente. Isso é muito importante para o país”.

Ao falar sobre a proposta do governo de taxar os dividendos em 20%, o presidente do Corecon-DF apontou como algo perigoso. “Se o sistema todo fosse revisto para que se aplicasse 20%, tudo bem. Mas o governo acaba penalizando a indústria que poderia ajudar muito o país, porque estes recursos, em vez de se transformarem em impostos e demonstrarem ineficiência, poderiam ser reinvestidos para a sociedade com inovação”, avalia. E concluiu, uma vez mais, ressaltando a importância do economista neste processo: “Nossa profissão é fundamental, privilegiada pelos conhecimentos adquiridos na faculdade”.

O momento das perguntas também se mostrou muito rico para o debate: Fernando de Aquino, que defendeu a atuação do estado, apontou para a importância do mercado, enquanto César Bergo, que ressaltou a importância do mercado de capitais, abordou a importância do estado. “O mercado conseguiria superar a crise, ele gera os mecanismos de superação da crise. Agora, para ter um ritmo de crescimento mais elevado e que beneficie a todos, tem que ter o estado”, comentou Aquino. “A mão do estado não pode ser invisível, ela tem que estar presente, e eu menciono três adjetivos: estado catalisador, estado transformador e estado indutor do desenvolvimento”, finalizou Bergo.

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