Em debate, Cofecon revisita importância do desenvolvimentismo

  • 15 de agosto de 2022
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A economia brasileira enfrenta vários problemas complexos, e um dos mais relevantes é a falta de uma estratégia de desenvolvimento. A busca por soluções de curto prazo coloca em segundo plano as ações destinadas a gerar resultados num prazo mais longo. Já são quase dez anos de crescimento baixo ou negativo e a indústria perde cada vez mais espaço no produto interno bruto. Pensando nisso, o Conselho Federal de Economia (Cofecon) realizou no último sábado, 13 de agosto, uma live comemorativa ao dia do Economista, como parte do projeto Economia em Debate. O palestrante convidado foi o economista Alexandre de Freitas Barbosa, autor do livro O Brasil Desenvolvimentista e a Trajetória de Rômulo Almeida. A mediação foi feita pela conselheira federal Ana Claudia Arruda Laprovitera.

 

O presidente do Cofecon, Antonio Corrêa de Lacerda, gravou um vídeo no qual parabenizava os economistas pelo seu dia e falava sobre o trabalho de Rômulo Almeida. “Ele é uma referência do pensamento econômico e do planejamento. Nada melhor do que revisitar a obra de grandes economistas que tiveram não só um papel intelectual relevante, mas uma função pública crucial para o grande salto que o Brasil deu, em termos de desenvolvimento, ao longo do século 20”, afirmou Lacerda. “Não se trata de copiar o que eles fizeram, mas de fazer o que Oswald de Andrade, na semana de 1922, traduziu como uma antropofagia: deglutir aquele conhecimento, adaptá-lo e tropicalizá-lo.”

 

“Tive a oportunidade de ler. A obra vai muito além do Rômulo Almeida. Como o professor Bresser-Pereira coloca no prefácio, é um mergulho no Brasil, e eu diria que na história do Brasil profundo”, comentou Ana Claudia após o debate. “Eu convido os economistas e o público que está aqui a conhecerem esta obra, porque ela é construída com uma trama muito forte, os personagens estão sempre conversando. Eles se transformaram em grandes técnicos do desenvolvimento, porque não foram só intelectuais orgânicos, mas tiveram visão integrada de desenvolvimento nacional.”

 

Barbosa contou que o livro demorou mais de 10 anos para ser elaborado. Começou em 2010, com um programa chamado Cátedra IPEA/CAPES do Desenvolvimento, e o autor apresentou um projeto para estudar a trajetória do intelectual baiano. “Construí e organizei uma equipe de pesquisa para tentar rastrear quem foi Rômulo Almeida e o material que conseguimos é impressionante”, contou. Depois, entre 2015 e 2017, defendeu uma tese de livre docência na qual abordou o Brasil desenvolvimentista no período de 1945 a 1964.

 

Ao falar sobre a atuação de Almeida no setor público, destacou sua importância na organização do censo de 1940 no Acre, a participação na chamada “controvérsia do planejamento” (o debate entre Roberto Simonsen e Eugênio Gudin, na qual Rômulo se alinhou ao primeiro), a criação do departamento econômico da CNI e a atuação na assessoria econômica do governo Vargas. Participou da criação da Petrobras, do Banco do Nordeste do Brasil, da Superintendência de valorização econômica da Amazônia, das reformas no setor elétrico que levaram à criação da Eletrobras, entre outras. “Boa parte destas instituições serão vitais para o governo JK e os governos subsequentes, inclusive a ditadura militar”, argumentou Barbosa. “Muitas vezes nós vemos o desenvolvimentismo como JK, a indústria automobilística, mas na verdade já havia ali uma comissão de desenvolvimento industrial. Eu tento contar a história deste processo por meio do movimento das estruturas e da atuação a partir do Estado, um movimento interdisciplinar.”

 

Após 1964, na visão de Alexandre, restam apenas os escombros do Brasil desenvolvimentista. “Agora há uma visão tecnocrática, da qual Delfim é o melhor exemplo. Temos a noção de um caminho ótimo para o desenvolvimento, como se fosse uma operação de política econômica”, abordou. “Tanto nos economistas ortodoxos como nos heterodoxos da Academia se criou uma determinada concepção do nacional-desenvolvimentismo de 1930 a 1980. Tudo mudou a partir de 1964. Acontece que a economia continuou se industrializando e crescendo, e o Estado tem um papel. Todo o resto é diferente. A maneira como é pensado o desenvolvimento já não é mais a mesma.”

 

Ao abordar anos mais recentes, Barbosa apontou que nos anos 2000 houve a retórica do desenvolvimento. “Mas a impressão que tenho é de que apesar da redução da desigualdade de renda, da recuperação do papel do Estado e da maior projeção internacional, o desenvolvimentismo ficou ali encouraçado numa operação de política econômica, e por isso precisamos recuperar esta tríade poderosa: projeto, interpretação e utopia”, destacou, em referência ao subtítulo do livro. “Deixamos de falar de dependência e subdesenvolvimento. Não são adjetivos, são conceitos, ferramentas importantes para compreender o funcionamento da economia, da sociedade e da cultura. Contribuições maiores que demos para a economia e as ciências sociais na América Latina.”

 

Por fim, o autor pontuou que a ideia do livro era resgatar as ideias existentes para entender como chegamos ao Brasil de hoje. “Tentei mapear 1945 a 1964, as rupturas de 1964 a 1985. Este conjunto de pensadores nos oferece princípios norteadores, uma ousadia propositiva. Precisamos dar mais substrato crítico e utópico ao desenvolvimentismo, indo além da economia. O que não reduz, pelo contrário, torna ainda mais importante o desafio que os economistas têm diante de si neste momento de encruzilhada que nós vivemos”, finalizou.

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