Artigo – Emenda e soneto
Perto de completar um mês, o governo interino de Michel Temer não conseguiu concretizar nenhuma de suas promessas: propiciar garantias para o prosseguimento da operação Lava-Jato e assegurar um clima de confiança para a retomada do crescimento econômico do País.
No primeiro caso, o que se observa é exatamente o contrário. Declarações gravadas de ministros (já exonerados) revelam fortes indícios de que o propósito de diversos membros do governo interino é atrapalhar e obstruir as investigações, com o intuito de preservar políticos do PMDB, do “Centrão” e de partidos que recém aderiram ao governo, envolvidos em atos de corrupção.
Quanto ao segundo aspecto, de assegurar um clima de confiança para a retomada do crescimento econômico, a instabilidade que tem marcado essas primeiras semanas de governo interino resultou em impacto negativo para a retomada da confiança. Dessa forma, observa-se queda expressiva na Bolsa de Valores de São Paulo, evasão de divisas para o exterior e até mesmo recrudescimento da taxa de inflação.
Uma das medidas cobradas por parcela expressiva dos economistas para a retomada do crescimento (excetuando-se, evidentemente, os economistas do mercado financeiro), que é a redução da taxa básica de juros, mais uma vez foi ignorada pelo Banco Central, que a manteve em 14,25%. A retomada do crescimento econômico pode ser ainda prejudicada pela intenção do governo interino de promover a devolução ao Tesouro de R$ 70 bilhões por parte do BNDES, reduzindo a capacidade de financiamento do nosso maior banco de fomento e afetando o nível de investimento do País; de realizar intensos cortes no programa Minha Casa Minha Vida, afetando ainda mais a construção civil; assim como promovendo reduções em programas sociais. Em suma, parece que a emenda veio pior do que o soneto.
Júlio Miragaya, presidente do Conselho Federal de Economia